Nem toda viagem precisa ser barata ao extremo, nem toda experiência especial exige grandes gastos. Com o tempo — e algumas idas e vindas pelo mundo — fui entendendo que existem pequenos luxos em viagens que fazem toda a diferença pra mim.
Não estou falando de resorts cinco estrelas ou voos em classe executiva. Estou falando de mimos conscientes, confortos escolhidos, detalhes que talvez pareçam supérfluos pra alguns — mas que me fazem sentir bem, presente e segura na estrada.
Seja uma cama realmente confortável, um jantar especial, um transfer agendado ao chegar sozinha num lugar novo… esses pequenos gestos mudam o clima da viagem. Não são regra, nem obrigação — mas são as minhas escolhas. E aprendi que vale a pena bancá-las, mesmo em roteiros simples.
Os pequenos luxos que eu faço questão (mesmo em viagens simples)
Cada mulher viaja de um jeito. Tem quem economize em tudo pra viajar mais. Tem quem prefira menos viagens, mas com conforto total. Eu fui achando meu caminho no meio disso. E descobri que, mesmo viajando com atenção aos gastos, gosto de bancar alguns pequenos luxos.
Não são exageros. Não são regras. São decisões que tomam corpo conforme o tempo, a maturidade e o que aprendi observando meu ritmo. Coisas que me fazem sentir mais confortável, segura, presente.
Pra muita gente pode parecer bobagem. Mas pra mim, são escolhas conscientes — e muitas vezes simples — que mudam totalmente a forma como eu vivo o lugar.
Uma hospedagem que me acolhe — e não só me acomoda
Nem sempre escolho a hospedagem mais barata. E não é porque quero luxo o tempo todo — é porque aprendi que um bom lugar pra ficar pode mudar completamente a forma como vivo a viagem.
Não é só sobre dormir bem (embora uma cama que abraça e um quarto silencioso já façam milagre). É sobre tudo o que aquele lugar oferece ao redor da cama.
Já fiquei em pousadas pequenas, afastadas do centro, com café da manhã preparado com produtos locais, servido devagar, numa varanda com vista pra serra. Em vez de sair correndo, eu parava ali por quase uma hora, começando o dia em outro ritmo. E, nesses casos, o que me atraía era a paz, o tempo desacelerado, o entorno calmo.
Mas nem sempre é isso que procuro. Quando a intenção da viagem é viver a cidade, estar perto de tudo também é um luxo. Gosto muito de me hospedar em bairros que me permitam caminhar até cafés, mercados, feiras, parques. É aquela liberdade de sair sem roteiro e deixar a cidade se apresentar no caminho.
Em Lisboa, por exemplo, fiquei num estúdio no bairro da Graça — não era a hospedagem mais barata, mas a localização me deu autonomia. Eu saía a pé pra quase tudo, descobria cafés pequenos, voltava pra descansar sem depender de transporte. Esse tipo de comodidade tem valor real. É o tipo de gasto que compra mais do que conforto: compra liberdade.
Também já optei por hotéis com estrutura mais completa — piscina, restaurante no próprio espaço, atendimento gentil, um colchão que acolhe o corpo. Não foram muitos dias, mas o suficiente pra descansar de verdade, recarregar e seguir a viagem com outro olhar. Não era só sobre conforto — era sobre suporte emocional e físico.
Lembro de uma vez em Tiradentes, quando me permiti ficar numa pousada mais charmosa, com varanda, jardim e ofurô. Chegar ali depois de um dia de caminhada nas ladeiras, tomar um banho quente e sentar no jardim com um vinho simples, mas bem escolhido, foi o meu luxo. Não porque era caro, mas porque fazia sentido com o que eu precisava naquele momento.
Hoje eu penso assim: se a hospedagem vira parte da experiência (e não só o lugar onde você deixa as malas), vale investir um pouco mais. Às vezes, esse “pequeno luxo” é exatamente o que transforma uma viagem comum em algo memorável.
Escolher como me mover também é um tipo de cuidado
Pra muita gente, transporte é só o meio — o que leva de um ponto ao outro. Mas pra mim, a forma como me movo durante uma viagem influencia diretamente como eu me sinto ao chegar. Já tentei fazer tudo no modo econômico: ônibus noturno, trem lotado, caminhadas longas demais pra evitar uma corrida curta. E, em algumas dessas vezes, cheguei esgotada, desconectada do lugar, e precisei de mais de um dia pra me reconectar comigo mesma.
Com o tempo, percebi que o deslocamento também é parte da experiência — e que conforto, nesse contexto, pode ter vários significados. Às vezes, é segurança. Às vezes, é liberdade. Às vezes, é só o direito de não se preocupar. Em cidades grandes e bem estruturadas, como Paris ou Barcelona, gosto de andar de metrô e ônibus. Me sinto parte da rotina local, observo o movimento, gasto pouco e ando bastante. Mas em outros lugares, gasto um pouco mais e escolho formas de transporte que me ofereçam um outro tipo de cuidado.
Lembro quando cheguei em Oaxaca, no México, sozinha, depois de um dia inteiro de voos e conexões. Ter agendado um motorista que me esperava no saguão, com calma, sem pressa, me tirou um peso enorme. Naquele momento, esse gasto foi um presente. Não pela sofisticação do serviço, mas pela paz mental de não precisar negociar, procurar, me virar em um lugar novo com a mochila pesada nas costas.
Em destinos menores, como o interior da Toscana ou regiões mais isoladas do Brasil, aluguei carro. Não foi uma escolha de conforto no sentido clássico, mas de autonomia. O transporte público era limitado, e poder decidir meus horários, parar onde me desse vontade, mudar a rota no meio do caminho, foi o que me permitiu viver o lugar com mais leveza. Lembro de uma tarde em que peguei um desvio e acabei encontrando uma feirinha local que nem estava no mapa. Ter esse tempo e liberdade valeu cada centavo.
Essas decisões não têm fórmula. Em algumas viagens, eu mesma prefiro resolver tudo a pé. Em outras, preciso facilitar as coisas, respeitar meu cansaço, encurtar o caminho. Hoje, antes de decidir como vou me deslocar, eu me escuto. Não escolho o mais caro por impulso, mas também não me obrigo a passar perrengue pra economizar. Aprendi que o jeito de chegar num lugar pode dizer muito sobre como a gente vai estar quando for a hora de partir. E isso, pra mim, também é um tipo de luxo.
Uma boa refeição é meu luxo preferido (e um dos mais importantes)
Em toda viagem, chega um momento em que eu paro e penso: “onde quero comer hoje?”. E essa pergunta nunca é só sobre comida. É sobre como quero me sentir naquele dia. Tem dias em que tudo o que eu preciso é um prato quente e um canto tranquilo. Em outros, quero mesa com vista, luz baixa, vinho local. Porque comer, pra mim, não é detalhe de roteiro — é parte central da experiência.
Se eu tiver que cortar em outras áreas da viagem pra bancar isso, eu corto. Porque comer bem, com intenção, é um dos pequenos luxos em viagem que mais fazem sentido pra mim. E não tem a ver com restaurantes caros ou pratos elaborados — tem a ver com presença. Com o tipo de memória que você leva dali.
Já escolhi jantar em lugares que fugiam da média de preço da viagem. Lembro de uma noite em Lisboa, num restaurante pequeno no bairro da Mouraria. Era tudo muito simples, mas feito com tanto cuidado — o pão servido ainda morno, a taça de vinho certa pra acompanhar o prato, a música quase imperceptível tocando ao fundo. Comi devagar, sozinha, e saí de lá com a sensação de ter vivido um momento que valia mais do que qualquer atração turística daquele dia.
Em outras cidades, como Buenos Aires ou Florença, eu me permiti reservar mesas em restaurantes que, sim, exigiam um pouco mais do orçamento. Mas em troca, eu recebia muito mais do que comida: recebia histórias no sabor, cuidado no serviço, e um tipo de silêncio interno que só chega quando a gente se sente acolhida.
E não preciso nem de jantar completo. Às vezes, um café já me entrega tudo isso. Entro em um lugar bonito, com boa luz e cheiro de pão assando, e fico. Gosto de escolher a mesa perto da janela, pedir um cappuccino e escrever. Ou só observar a cidade passando. São esses momentos que trazem pausa, ritmo, uma sensação de que o tempo se alongou só pra mim.
Já voltei ao mesmo café várias vezes numa mesma viagem, como quem volta à casa de alguém querido. Em Bogotá, teve um desses. Ficava numa rua calma e tinha um pátio com mesas ao ar livre. Não era barato. Mas o pão era feito na hora, os sucos vinham em copos largos e coloridos, e o atendimento era de uma gentileza que me fazia respirar mais fundo. Eu sabia que estava gastando mais do que o habitual ali — e sabia também que não queria abrir mão daquele lugar.
Esse tipo de gasto é escolha. Não é automático. Às vezes olho o cardápio, comparo, penso. Mas quando eu sinto que aquele lugar vai me dar mais do que uma refeição — vai me dar um espaço pra estar — eu digo sim. E essa é uma das formas mais bonitas que encontrei de me cuidar enquanto viajo.
Se alguém me perguntasse “vale a pena gastar com alimentação em viagem solo?”, eu diria: depende. Depende do que te alimenta de verdade. Pra mim, comer bem — com calma, com prazer, com tempo pra saborear o lugar — é uma das formas mais sinceras de estar presente. E esse tipo de presença, pra mim, é o maior dos luxos.
Quando o conforto está na experiência (e não no roteiro pronto)
Nem sempre quero ou preciso de experiências guiadas. Gosto da liberdade de explorar no meu tempo, mudar de caminho, parar sem pressa. Mas, em algumas viagens, percebi que investir um pouco mais em um ingresso especial ou um tour diferenciado muda completamente a forma como vivo o lugar.
Não é sobre seguir um roteiro rígido. É sobre escolher experiências que respeitam meu ritmo, minha curiosidade e, principalmente, minha energia. Às vezes, esse luxo está no detalhe de não precisar enfrentar uma fila de duas horas. Às vezes, está na chance de ver um lugar sob outra luz — literalmente.
Lembro do tour noturno pelo Louvre. O museu, que durante o dia pode parecer caótico, cheio de vozes e passos apressados, ganha um silêncio quase sagrado quando escurece. As salas ficam mais vazias, a iluminação revela detalhes que passam despercebidos à luz do sol, e a pressa desaparece. Ter pago um pouco mais por esse tipo de entrada não me deu apenas conforto — me deu uma outra experiência com o lugar. Um outro Louvre.
Em outros momentos, optei por ingressos com acesso prioritário ou com horários específicos. E isso me poupou algo precioso: energia. Evitar longas filas, multidões apertadas e esperas intermináveis não é frescura — é um jeito de cuidar do meu bem-estar durante a viagem. E quanto mais madura eu fico, mais vejo valor nesse tipo de escolha.
Já vivi isso em locais como a Sagrada Família, o Coliseu, o Palácio de Versalhes… onde, além de evitar filas, o ingresso que escolhi oferecia acesso a áreas menos visitadas, ou a um grupo menor, o que me permitia observar com mais calma, escutar melhor, e sentir o lugar de verdade — sem distrações.
Não faço isso em toda viagem. E não acredito que uma boa experiência dependa do valor do ingresso. Mas quando percebo que pagar um pouco mais pode significar viver o lugar com mais presença, menos desgaste, e mais profundidade, eu escolho esse caminho. Mesmo que ele não esteja no roteiro tradicional, ou não pareça “essencial” no guia de viagem.
Porque o essencial, pra mim, é poder lembrar da experiência com clareza — não da fila que enfrentei ou da exaustão no fim do dia.
Tempo livre e autocuidado: os luxos que não aparecem na foto
Quando o que eu mais preciso é espaço — interno e externo
Entre um hotel confortável e um jantar especial, existe outro tipo de luxo que aprendi a valorizar com o tempo: o que não é visível, mas transforma tudo por dentro. E ele costuma aparecer nos espaços vazios do roteiro. Naquelas horas em que eu não marco nada, não corro pra lugar algum, e só me dou permissão pra ser.
Tempo livre, pra mim, virou parte da viagem. Já tive dias em que pulei atrações famosas só pra ficar sentada num banco de praça, observando a cidade acontecer. Ou em que acordei sem despertador, fiquei mais tempo no café da manhã, escrevi num caderno, ouvi uma música que me lembrava de casa. Parece pouco — e talvez seja mesmo. Mas são esses intervalos que me ajudam a processar o que estou vivendo. A absorver, em vez de apenas registrar.
Esse tipo de escolha, com calma e intenção, é uma forma de autocuidado. Não é sobre spa ou meditação (embora às vezes também entre na mala). É sobre respeitar meu ritmo. Saber quando desacelerar. Entender que nem tudo precisa ser aproveitado ao máximo. Que o melhor da viagem, muitas vezes, está nos momentos em que a gente não tenta capturar nada — só vive.
Em algumas viagens, compro um hidratante especial, um chá local, ou levo comigo um óleo essencial com cheiro de lavanda. Pequenas coisas que criam um ritual de chegada toda noite. Me ajudam a dormir melhor, a voltar pra mim depois de um dia cheio, a criar uma sensação de lar mesmo longe dele. Isso também é luxo. Um luxo discreto, mas que faz diferença.
Escolher não estar disponível o tempo todo, dizer não a uma programação intensa, cuidar do corpo e da mente durante a viagem… tudo isso exige coragem. Porque o mundo grita que temos que aproveitar cada segundo. Mas eu aprendi que aproveitar, pra mim, é outra coisa. É me sentir inteira. Presente. Conectada comigo mesma e com o que está ao redor.
Nem sempre é fácil. Às vezes, dá culpa. Outras vezes, dá medo de estar “perdendo alguma coisa”. Mas quando eu escolho esse tipo de pausa, quase sempre descubro que é ali, no silêncio, que a viagem se revela.
Porque no fim das contas, o que vale é o que fica
Depois de tantas viagens, aprendi que não existe fórmula única pra viver bem o mundo. Cada mulher vai traçar o seu caminho — às vezes com mais estrutura, às vezes com mais improviso. E tudo bem. O que realmente importa, no fim, é saber o que te sustenta em cada passo. O que te ancora. O que te nutre de verdade, ainda que pareça pequeno.
Esses pequenos luxos em viagens — uma boa cama, uma refeição feita com afeto, um deslocamento mais confortável, um silêncio escolhido, um café tomado com calma — não estão no topo de uma lista de prioridades. Eles estão no fundo. Na base que sustenta a experiência. E quando a gente começa a reconhecer isso, a forma de viajar muda. Fica mais consciente, mais leve, mais nossa.
Não se trata de gastar mais. Se trata de escolher melhor. Com critério, com escuta, com presença. Saber o que te faz bem e ter coragem de bancar essas escolhas — mesmo que não sejam óbvias, nem baratas, nem fáceis de explicar. Porque não é sobre mostrar. É sobre sentir.
E você? Quais são os pequenos luxos que fazem sentido pra você em uma viagem? Aquele gasto que pareceu bobo, mas te devolveu ao centro? Aquela pausa que ninguém viu, mas que ficou em você? Me conta. Gosto de saber como outras mulheres constroem os próprios caminhos — sem pressa, sem fórmula, com alma.