Minha primeira viagem internacional sozinha
Viajar sozinha pela primeira vez é um passo grande — ainda maior quando envolve atravessar fronteiras, encarar outro idioma, outra cultura e ficar longe de tudo que é familiar. A minha primeira viagem internacional sozinha aconteceu com uma mistura de coragem silenciosa e medo legítimo. E foi exatamente por isso que ela me ensinou tanto.
Não foi uma jornada épica, nem totalmente tranquila. Mas foi uma experiência que me transformou de forma prática: no modo de planejar, na forma de lidar com o imprevisto e, principalmente, na forma de me escutar durante o caminho.
Neste artigo, compartilho o que realmente funcionou pra mim nessa primeira viagem sozinha para fora do país, o que eu faria diferente se fosse hoje e alguns aprendizados que talvez facilitem o seu processo também. Não é um roteiro fechado — é um relato com dicas honestas, pensadas por quem já viveu esse momento.
Se você está pensando em embarcar sozinha pela primeira vez ou quer saber como é na prática, esse texto é pra você.
O que eu senti — e por que isso importa pra quem vai sozinha pela primeira vez
Antes de embarcar na minha primeira viagem internacional sozinha, o que mais me acompanhava não era a empolgação. Era a dúvida.
Não do tipo que paralisa, mas aquela que sussurra: será que eu dou conta?
E essa pergunta me seguiu até o aeroporto.
Eu sabia que queria fazer aquilo. Que precisava, até. Mas mesmo decidida, tive medo. Medo de não me adaptar, de me sentir perdida, de me arrepender. Medo de não saber pedir ajuda. E medo de me sentir muito sozinha — o tipo de solidão que aparece não por falta de gente ao redor, mas por falta de familiaridade com tudo.
Na primeira noite, senti isso com força. O quarto de hotel era bom, o bairro era seguro, mas o silêncio era grande. Fiquei ali, sentada na cama, com aquela sensação de “o que eu tô fazendo aqui?”. E ao mesmo tempo, no fundo, uma intuição calma: você tá exatamente onde precisa estar.
Com o passar dos dias, o medo não sumiu — mas diminuiu de tamanho. Ele foi ficando no banco de trás, enquanto outras sensações iam ganhando espaço. Orgulho por ter conseguido resolver um problema sozinha. Alegria por ter encontrado um café bonito só andando sem rumo. Confiança ao conseguir me comunicar, mesmo sem falar o idioma perfeitamente.
Compartilho isso porque muita gente fala sobre a beleza de viajar sozinha, mas pouca gente fala sobre o peso invisível que também pode vir junto. E sentir medo, dúvida ou até arrependimento nos primeiros dias não significa que você fez algo errado — só significa que você está vivendo algo novo. E se permitir sentir tudo isso é parte importante do processo.
O que aprendi é que a segurança emocional numa viagem solo não vem de fora. Ela vai sendo construída aos poucos, conforme a gente vai se escolhendo. E isso, pra mim, foi o maior começo de todos.
O que funcionou de verdade na minha primeira viagem internacional sozinha
Viajar sozinha pela primeira vez pra fora do país exige coragem, sim — mas exige também escolhas práticas que ajudam a suavizar a jornada. Olhando pra trás, vejo que não foram as grandes decisões que mais me sustentaram, mas sim os detalhes escolhidos com critério. Pequenas atitudes que me permitiram viver com mais presença, leveza e segurança. Aqui estão algumas delas, exatamente como eu contaria pra quem estivesse se preparando pra embarcar agora.
Uma hospedagem bem escolhida muda a experiência (mais do que parece)
Optei por uma hospedagem com boa reputação, em um bairro seguro, com acesso fácil a transporte, mercados e cafés. Isso não só me poupou deslocamentos longos e cansativos, como também me deu autonomia pra sair e voltar quando quisesse. Estar num lugar em que eu me sentia à vontade ao chegar sozinha à noite ou onde eu pudesse andar a pé sem medo foi uma das decisões mais acertadas da viagem.
Um detalhe importante foi ter olhado mais do que o preço: avaliei comentários de outras mulheres viajando sozinhas, foquei em hospedagens com recepção 24h, e sempre checava no mapa se havia padarias, mercados e cafés nas redondezas. Esses detalhes não aparecem nas fotos do site, mas salvam a experiência.
Descobri que o que parece “conforto extra” na teoria, na prática vira tranquilidade.
Conexão constante virou uma rede de apoio invisível
Antes mesmo de chegar, contratei um chip internacional com internet ilimitada. Fechei com uma empresa brasileira que entregou em casa, já com tudo pronto pra uso. Isso me permitiu sair do avião já conectada — o que me ajudou desde o primeiro deslocamento até as noites em que eu precisava ver a rota, pedir um transporte ou simplesmente procurar onde jantar.
Não depender de Wi-Fi gratuito ou da boa vontade de terceiros me deu autonomia, segurança e privacidade. Mais do que praticidade, essa conexão virou uma rede de apoio invisível: era com ela que eu traduzia cardápios, buscava rotas, me localizava quando me perdia.
E saber que, a qualquer momento, eu podia me virar sozinha — ainda que digitalmente — me deu liberdade emocional.
Uma organização financeira simples me deu liberdade (sem rigidez)
Eu não levei planilhas detalhadas, nem planejei cada centavo — mas tive clareza desde o início do que era possível dentro da minha realidade. Antes de embarcar, pensei em um valor médio por dia, com uma margem extra reservada pra imprevistos e escolhas espontâneas. Isso me deu um parâmetro interno pra decidir sem culpa e sem precisar fazer conta a cada café ou deslocamento.
Dividi o dinheiro de forma prática: uma parte em espécie (que troquei ainda no Brasil, com cotação conhecida), outra em cartão internacional com taxa razoável. Evitei sacar fora do país com frequência — até porque nem sempre é simples achar um caixa 24h confiável — e deixei sempre um valor guardado só pra emergências reais. Também configurei alertas no app do banco, pra manter um controle leve, mas presente.
Essa estrutura simples me trouxe leveza. Me permitiu gastar com critério, sem cair no medo de gastar demais ou na culpa de não aproveitar.
E me permiti gastar com o que fazia sentido: um jantar especial, um ingresso com hora marcada, um transporte mais confortável quando o cansaço falava mais alto. Viajar sozinha tem isso — você escuta o que precisa e age de acordo. E foi exatamente isso que eu fiz: sem me privar do essencial, e sem me forçar a aproveitar tudo só porque estava ali.
Ter um seguro foi um cuidado invisível — mas essencial
Se tem uma decisão que eu faria de novo em qualquer viagem solo, é contratar um seguro viagem. E não falo só por precaução. Falo porque, numa viagem onde tudo é novo — o idioma, a comida, a forma como as coisas funcionam — saber que existe uma rede de suporte à distância me deu um tipo de tranquilidade que não tem preço.
Fechei ainda no Brasil, comparando planos em um site de seguros e escolhendo um que oferecia cobertura médica internacional, cancelamento de voos, assistência jurídica e atendimento em português. Parece exagero? Pode ser. Mas pra mim, era como colocar um cinto de segurança emocional.
Eu não precisei usar. Mas só de saber que, se algo acontecesse, eu teria com quem contar, já me fazia dormir melhor. E quando você está sozinha, dormir bem é um tipo de segurança também.
Hoje eu vejo o seguro como parte da mala invisível: aquela que a gente espera não precisar abrir, mas se precisar, está ali.
Viajar leve me fez sentir mais capaz
Escolhi uma mala que eu mesma conseguiria carregar — leve, com rodinhas boas, e do tamanho ideal pra subir escadas sozinha ou colocar no bagageiro do trem sem ajuda. Organizei as roupas de forma estratégica: tudo combinava entre si, e levei o mínimo de sapatos possível, focando no conforto real.
Pode parecer bobagem, mas não precisar depender de ninguém pra carregar peso me deu uma sensação de autonomia que me acompanhou por toda a viagem. Me movimentar com facilidade, mudar de cidade sem esforço, não ficar refém de transporte pago só por causa da mala… tudo isso virou liberdade prática — e emocional.
Menos peso físico trouxe mais leveza emocional. Hoje, essa virou uma regra pessoal: só levo o que consigo carregar sozinha — sem pressa, sem esforço, e sem me preocupar em parecer “bem vestida” todos os dias. Prefiro me sentir bem.
Roteiro flexível foi meu maior presente
Eu não preenchi cada hora da viagem. Deixei intervalos sem compromisso, dias mais livres, manhãs sem despertador. Isso me deu espaço pra improvisar, descansar e, principalmente, observar.
Foi nesses momentos sem plano que a viagem realmente aconteceu. Descobri cafés com vista, uma feirinha local, um museu pequeno que me emocionou. Tive tempo pra parar, pra escrever num caderno, pra simplesmente sentar num banco de praça e sentir a cidade acontecer.
Essa folga no planejamento me tirou da cobrança de “aproveitar tudo” e me lembrou que, sozinha, o ritmo é só meu. E respeitar isso foi um dos maiores aprendizados da viagem.
Hoje eu penso que não planejar tudo é, na verdade, planejar espaço pra viver.
Comunicação não perfeita, mas suficiente
Eu não dominava o idioma do país, mas fui preparada. Aprendi frases básicas, levei um mini guia de bolso e usei muito o Google Tradutor — inclusive offline. Não tive vergonha de errar, falava devagar, perguntava com gentileza e sorria. E quase sempre, isso bastava.
Em restaurantes, lojas, museus… a comunicação fluía. Não por fluência, mas por disposição. Descobri que se fazer entender é mais sobre escuta e paciência do que sobre vocabulário.
Nos momentos em que nada funcionava, usava gestos, escrevia no celular ou apontava — e estava tudo bem. O mundo é mais acolhedor do que a gente imagina quando se dispõe a respeitar o outro.
Me observar ao longo do caminho me fez seguir melhor
Uma coisa que funcionou — e que eu nem tinha planejado — foi criar pausas pra me escutar. Tinha momentos em que eu só sentava num banco de praça, respirava fundo e me perguntava: como você tá agora?
Às vezes a resposta era “cansada”, outras era “em paz”. O importante foi perceber que eu podia ajustar o ritmo conforme o que sentia. Não precisava seguir o plano, não precisava provar nada.
Essas microparadas foram pequenas bússolas internas. Elas não me diziam pra onde ir, mas me lembravam de como eu queria estar no caminho.
E no fim das contas, é isso que fez a diferença: não ter o controle de tudo, mas estar inteira em tudo o que eu escolhi viver.
O que eu faria diferente hoje (e por quê)
Com o tempo — e outras viagens — a gente vai afinando o olhar. Não pra acertar tudo, mas pra se escutar melhor desde o início. Quando penso na minha primeira viagem internacional sozinha, não tenho arrependimentos, mas reconheço escolhas que hoje eu faria diferente. Não porque foram erradas, mas porque hoje eu tenho outra maturidade, outro ritmo, outra escuta. E talvez essas mudanças possam ajudar você também, se estiver nesse momento.
Teria ficado mais tempo em menos cidades
Na tentativa de “aproveitar ao máximo”, acabei encaixando mais destinos do que precisava. E embora tenha conhecido muita coisa, não vivi tudo com a profundidade que gostaria. Hoje, eu trocaria três cidades em dez dias por uma só em sete. Porque quando a gente desacelera, a gente vê mais — e vê melhor. Dá tempo de se familiarizar com o caminho do café até o parque. Dá pra criar rotina, mesmo que breve. E essa sensação de pertencer, mesmo por poucos dias, é o que mais me marca até hoje.
Teria planejado melhor os deslocamentos internos
Alguns trajetos foram longos, cansativos e mal calculados. Tive conexões apertadas, esperas demoradas e aquele estresse que tira a leveza da viagem. Se fosse hoje, teria pesquisado melhor as rotas, os horários, o tipo de transporte. E em alguns trechos, teria contratado um transfer privado sem culpa. Porque há momentos em que o conforto não é luxo — é autocuidado.
A dica embutida aqui é simples: vale olhar as opções de deslocamento não só pelo preço, mas pelo que você vai precisar naquele dia. Tem horários em que carregar mala em escada de metrô simplesmente não compensa. E tá tudo bem escolher o caminho mais confortável.
Teria comprado os ingressos com antecedência
Em algumas atrações, perdi tempo em filas ou deixei de visitar por falta de vaga. Hoje, eu pesquisaria os ingressos prioritários com calma, ainda no Brasil. Em lugares muito visitados, como museus ou monumentos, comprar com antecedência não é ansiedade — é inteligência logística. E não se trata de encher a viagem de atrações. É só uma forma de escolher com intenção o que realmente quero viver, e garantir que vou conseguir.
Também teria olhado tours pequenos, com guias locais — não pra seguir alguém o tempo todo, mas pra ter outro tipo de contato com o lugar. Às vezes, uma tarde com alguém que conhece a cidade por dentro vale mais do que dias de caminhada sem contexto.
Teria pesquisado cafés, feiras e restaurantes com mais intenção
Eu deixei pra descobrir onde comer na hora, e isso funcionou algumas vezes — mas em outras, foi só cansativo. Se fosse hoje, faria uma pequena curadoria antes de viajar: uma listinha com cafés charmosos, feiras locais, restaurantes com comida típica e bom custo-benefício.
Nada muito rígido. Só referências pra quando a fome apertar e a energia pra pesquisar for zero. Saber onde você quer estar quando estiver com fome é uma forma sutil de se cuidar.
E mais: quando comi em lugares que escolhi com intenção, a refeição virou parte da memória. Não era só comida — era um momento vivido com prazer e presença.
Teria levado menos expectativa — e mais abertura
Eu fui achando que viveria uma grande transformação. Que voltaria “diferente”, mais forte, mais dona de mim. Mas o que encontrei foi muito mais sutil. E, talvez por isso, mais verdadeiro.
Hoje, eu viajaria sem esperar me encontrar em cada esquina. Viajaria com espaço interno pra simplesmente viver — com medo, com beleza, com pausas. Porque é nos detalhes pequenos, e não nos grandes momentos, que a viagem se mostra.
Levar menos expectativa não é esperar menos. É só deixar espaço pra que as coisas sejam o que precisam ser. E isso muda tudo.
Teria anotado mais o que sentia
Na correria do dia a dia da viagem, deixei de registrar muitas sensações. Achei que ia lembrar depois, mas a memória nem sempre guarda o que importa. Se fosse hoje, escreveria mais. Talvez num caderninho simples, ou até em notas do celular. Não pra publicar, não pra mostrar. Só pra guardar.
Porque tem detalhes que passam batido, mas quando a gente escreve, eles ficam. Um cheiro na rua, uma música num café, uma frase ouvida no metrô. Essas pequenas coisas são o que formam o corpo da viagem. E escrever é uma forma de ancorar isso em nós.
A viagem começa antes e continua depois
A minha primeira viagem internacional sozinha não foi perfeita — e não precisava ser. Ela foi feita de acertos simples, descobertas silenciosas, escolhas que fizeram sentido na hora e outras que hoje eu faria diferente. E, mesmo assim, foi uma das experiências mais honestas que já vivi comigo mesma.
Percebi que não é o destino que define a viagem, mas sim o modo como a gente escolhe caminhar por ele. O cuidado com os detalhes — uma cama boa, um trajeto mais leve, um momento de pausa, um seguro contratado com calma, um café escolhido com intenção — tudo isso molda a forma como a gente se sente ali. Porque, no fundo, viajar sozinha é isso: se responsabilizar pelas próprias escolhas e se permitir descobrir o que te sustenta longe de casa.
Se você está prestes a fazer sua primeira viagem solo internacional, o que posso dizer é: vá com escuta. Leve suas certezas, mas abra espaço pra mudar de ideia. Planeje o que puder — não pra controlar tudo, mas pra te dar liberdade de improvisar. E, acima de tudo, respeite o seu tempo. Não compare sua experiência com a de ninguém. A sua história não precisa ser épica. Só precisa ser sua.
E se tiver dúvida, medo, ou simplesmente vontade de conversar sobre isso, me escreve. Gosto de trocar com quem tá nessa mesma estrada — feita de mapas, coragem e presença.
Nos vemos por aí.