Você sabe como é… quando começo a organizar uma viagem, não penso logo nos pontos turísticos ou nos restaurantes da moda.
O que me move é outra coisa: descobrir como eu vou viver aquele lugar.
E isso começa nas escolhas pequenas — onde comer, o que visitar, por onde andar — mas que, no fim, dizem muito sobre como eu gosto de viajar.
Outro dia, numa conversa solta num barzinho, uma amiga me perguntou:
“Como você escolhe os lugares numa viagem?”
E a resposta veio com facilidade, porque já virou meu jeito de estar no mundo:
Escolho com calma. Com escuta. Sem pressa pra ver tudo, mas com vontade de viver o que importa.
Nesse texto, quero te contar como essas decisões acontecem pra mim.
Sem roteiro mágico, sem lista infalível — só a minha forma de viajar com intenção.
E quem sabe isso te inspira a montar o teu próprio jeito também.
O que pesa na minha escolha: presença, não perfeição
Viajar, pra mim, nunca foi sobre encontrar o lugar certo.
É sobre encontrar o lugar que faz sentido naquele momento.
Com o tempo — e com algumas experiências boas, outras frustrantes — eu entendi que escolher onde ir e onde comer não é sobre seguir um roteiro ideal. É uma prática de escuta. Escuta do lugar, do meu corpo, do meu ritmo, do que aquela viagem está me pedindo.
Essa escuta se traduz em decisões simples, mas que fazem toda a diferença. E quanto mais escuto, mais percebo que essas escolhas não precisam ser perfeitas. Elas só precisam ser conscientes. Às vezes, isso significa ir a um lugar super conhecido. Outras, significa virar a esquina e entrar em algo que ninguém indicou. A pergunta que me guia é quase sempre a mesma: “isso faz sentido pra mim agora?”
Nem sempre é uma resposta clara, mas ela me ajuda a escolher com mais presença e menos obrigação.
Comer bem não é sobre fama — é sobre verdade no prato
Já sentei em restaurantes premiados, com vista bonita, prato elegante e atendimento impecável. E saí de lá sem lembrar do gosto da comida. E já comi em portinhas sem letreiro, com luz branca e guardanapo de papel, e voltei só pra agradecer o sabor daquilo tudo.
Hoje, quando escolho onde comer, eu olho além do cardápio. Gosto de perceber quem está ali. Se só tem turista com celular na mão, eu penso duas vezes. Mas se vejo gente local, pessoas que claramente estão ali porque gostam e voltam sempre, fico mais à vontade. Observo o ambiente também: se tem cheiro de cozinha viva, se tem conversa entre os funcionários, se tem um ritmo que convida a ficar.
Não é sempre sobre comida local ou tradicional. Tem dia em que quero algo leve, rápido, moderno. Mas mesmo nessas horas, eu tento não ir no automático. Comer numa viagem é mais do que se alimentar. É um jeito de se conectar com o lugar. E eu gosto de fazer isso com verdade.
Visitar não é sobre ticar atrações — é sobre sentir o lugar de verdade
Já fiz viagens em que passei o dia inteiro correndo de um ponto turístico pra outro. Vi tudo, fotografei tudo, marquei presença em todos os lugares indicados. E quando voltei pra casa, senti que não lembrava bem de nada. Só do cansaço. Só da sensação de ter cumprido uma lista que não era minha.
Hoje, prefiro ver menos e estar mais. Uma manhã em um bairro, andando sem rumo, me conecta muito mais do que cinco atrações em sequência. Gosto de entrar em lugares sem saber o que tem dentro. De sentar num banco e observar. De deixar o dia me mostrar onde ele quer me levar.
Quando visito um museu grande, não tento ver tudo. Escolho um setor, uma sala, uma obra. Fico o tempo que quiser. Deixo que a experiência me atravesse, em vez de eu tentar atravessar o museu inteiro.
E se o lugar for famoso, mas não conversa com o que eu tô sentindo, tudo bem não ir. Não preciso ver tudo. Preciso viver o que me chama.
Fazer escolhas assim me ajuda a voltar com outra sensação. Não com a lista de tudo o que vi — mas com o que ficou em mim, porque eu estava lá de verdade.
O que eu aprendi a evitar (e quando vale abrir exceções)
Uma das coisas mais valiosas que aprendi viajando é que evitar certos lugares pode ser uma escolha de autocuidado. Não é sobre fazer charme ou buscar o alternativo só por ser diferente. É sobre energia, sobre coerência, sobre manter o meu bem-estar como prioridade enquanto me movimento por um lugar que ainda não conheço.
No começo, eu achava que precisava ir a todos os pontos famosos, experimentar todos os pratos típicos, ver o máximo que conseguisse em pouco tempo. Mas o que isso me deixava no final não era preenchimento — era exaustão. Eu voltava da viagem sem conseguir lembrar do que realmente me marcou, e com a sensação de que só cumpri uma agenda.
Aos poucos, fui reconhecendo os tipos de experiências que me drenavam. Restaurantes com fila de espera só pra tirar uma foto do prato. Atrações onde ninguém fala baixo, onde tudo virou cenário, onde a lógica do consumo engoliu a história. Lugares em que a pressa era maior que a experiência.
Esses são os contextos que hoje eu evito com tranquilidade — não por rebeldia, mas por consciência. Eu sei que, se insistir, vou sair de lá esgotada e com aquela sensação de “não era bem isso que eu queria”.
Quando o clichê vale a pena (desde que você faça do seu jeito)
Mas ao mesmo tempo, aprendi que nem toda cilada turística é uma cilada real. Tem lugares que viraram pontos turísticos gigantescos por um motivo. E às vezes, mesmo com a multidão e o caos, ainda vale a pena ir — desde que eu esteja preparada.
O Louvre, por exemplo. Ele tem tudo o que normalmente me afastaria: é lotado, é famoso demais, é gigante a ponto de deixar a gente zonza. Mas quando fui, decidi que não ia “ver o Louvre”. Eu ia escolher um andar, uma sala, uma obra. E ficar. Não tentei abraçar tudo, nem disputar espaço com quem queria chegar primeiro na Monalisa. Fui do meu jeito, e encontrei uma experiência íntima num lugar coletivo.
Aprendi também que tem lugares que só funcionam se você respeita o seu tempo dentro deles. Um mercado popular pode ser barulhento, confuso, intenso. Mas se você não estiver com pressa, pode ser uma das coisas mais vivas da viagem. Se você não chegar querendo consumir tudo, pode sair de lá com conversas, cheiros, texturas e sons que nenhum museu te daria.
A chave está em como eu escolho viver aquilo
O que me ajuda a decidir se eu vou ou não? Primeiro, eu me escuto. Me pergunto como estou naquele dia. Se tenho disposição pra algo mais intenso, se estou aberta a lidar com barulho e movimento, se consigo entregar minha atenção a um lugar que exige mais. E se a resposta for sim, eu vou. Mas com preparo: de cabeça, de tempo e de intenção.
Também aprendi que dá pra viver esses lugares “difíceis” de um jeito diferente. Indo em horários alternativos, comprando ingresso com antecedência, buscando experiências paralelas dentro do mesmo espaço. Às vezes, a melhor parte de uma atração está justamente onde ninguém presta atenção — num corredor lateral, numa sala esquecida, numa história escondida.
Evitar por evitar me parece raso. Mas evitar com consciência é sabedoria. E abrir exceção, quando faz sentido, é maturidade. No fim, o que me guia não é um manual. É o entendimento de que cada escolha que eu faço em uma viagem está moldando minha experiência — e isso inclui o que eu digo “sim”, o que eu digo “não”, e o que eu deixo pra outro momento, com a certeza de que não preciso viver tudo de uma vez.
Porque mais importante do que ver tudo, é voltar sentindo que aquilo foi meu. Que fui eu quem escolhi, e não um roteiro pré-pronto.
Meus critérios reais de escolha
Como decido o que vale a pena viver numa viagem (e o que deixo pra outra hora)
Nem sempre a melhor experiência de uma viagem está naquilo que todo mundo recomenda.
Muitas vezes, está num detalhe que só aparece pra quem está atento: uma conversa com alguém local, o cheiro vindo de uma cozinha escondida, a indicação que vem fora da internet.
Com o tempo — e com muitos erros e acertos no caminho — fui entendendo que minhas escolhas precisam ser mais do que logísticas. Elas precisam ser alinhadas com o que eu busco viver naquele momento. E isso vale tanto pro restaurante da próxima esquina quanto pra um museu renomado.
A pesquisa é parte do prazer (e da experiência)
Muita gente acha que pesquisar demais estraga a espontaneidade da viagem. Eu penso o contrário.
A pesquisa, pra mim, é quase o primeiro mergulho. É onde começo a sentir o lugar, entender seus sabores, suas histórias, seus ritmos. E, principalmente, é onde consigo filtrar o que tem a ver comigo e o que não tem.
Gosto de pesquisar a fundo sobre a culinária local — e não só o prato típico. Quero saber como as pessoas comem, o que é servido no cotidiano, o que representa celebração praquele povo. A comida, pra mim, é a linguagem mais direta de um lugar. E conhecer a cozinha regional é como conversar com a alma da cidade. É ali que o povo se expressa sem precisar de tradução.
Antes de embarcar, eu busco blogs menores, vídeos de gente local, entrevistas com chefs da região, dicas que vêm de quem vive. Não é sobre montar uma lista dos “melhores restaurantes”, mas de criar uma rede de possibilidades reais, com identidade. A pesquisa me ajuda a perceber quais lugares me chamam antes mesmo de eu chegar. E quando eu chego, já não estou tão turista assim.
Comer bem começa com o que (e quem) está ali
Comer durante uma viagem é mais do que matar a fome. É uma das formas mais simples — e profundas — de entender um lugar. Mas também é onde acontecem algumas das maiores frustrações. Comida sem sabor, atendimento apressado, cardápio genérico e conta salgada.
Com o tempo, fui aprendendo a observar antes de sentar. Se o cardápio tem cinco idiomas e fotos de todos os pratos, já entendo que ali tentam agradar o mundo inteiro — e raramente entregam algo com identidade. O mesmo vale pra restaurantes onde só há turistas, garçons apressados e garçons na porta tentando te convencer a entrar.
Gosto de lugares com cardápio curto, feito com o que há no dia. Espaços que parecem fazer parte da rotina local. Onde vejo famílias almoçando, idosos lendo o jornal, gente do bairro que conhece o dono. Às vezes, a história do prato chega antes da comida. Como quando o garçom me contou, entre um pedido e outro, que aquela receita era da avó, adaptada por causa do inverno. Essa simplicidade com raiz me toca mais do que qualquer estrela Michelin.
Nem sempre dá pra acertar — já me frustrei, claro. Mas quase sempre acerto quando escolho com calma, olho ao redor e presto atenção em quem frequenta o lugar. Comer bem, pra mim, começa com isso: com o que e com quem está ali.
Adaptar a experiência é tão importante quanto a escolha em si
Tem lugares que valem a visita — mas não do jeito tradicional.
E eu aprendi que a forma como você vive um lugar pode transformar completamente o que ele entrega.
A primeira vez que ouvi falar da Alhambra, em Granada, me disseram que era um lugar mágico — mas lotado. Fui pesquisar e descobri que havia uma visita noturna, mais silenciosa, com um ritmo totalmente diferente. Escolhi esse caminho. E foi ali, andando devagar pelos corredores quase vazios, sob luz baixa, que senti o espaço me atravessar de verdade. A beleza estava lá. Mas o silêncio, a calma e a escolha de vivê-la no meu tempo fizeram dela uma das experiências mais marcantes da viagem.
Depois disso, percebi que muitos dos grandes lugares do mundo podem ser vividos de outro jeito, desde que a gente não aceite o pacote pronto.
Horários alternativos, visitas temáticas, guias que contam histórias específicas, percursos menos conhecidos… tudo isso pode transformar um ponto turístico em algo íntimo. E quando isso acontece, a gente deixa de ser espectador pra realmente estar ali.
Mesmo quando não há outra forma de fazer — quando o lugar é cheio, barulhento, intenso — eu adapto minha expectativa. Entro sabendo que não terei silêncio, mas posso ter impacto. Que não vou conseguir ver tudo, mas posso escolher ver bem uma parte.
O que transforma a experiência não é o lugar em si, mas a forma como você se posiciona diante dele. E isso, pra mim, é uma das chaves mais poderosas de uma viagem com presença.
Um bom guia transforma a experiência — quando sabe contar a história certa
Nem sempre viajo sozinha nos passeios. Algumas das experiências mais profundas que já tive foram com guias locais que sabiam contar o que os livros não dizem. E aqui não falo só de conhecimento técnico, mas de alguém que se conecta com o lugar e sabe traduzir aquilo pra quem está ali pela primeira vez.
Já fiz tours em bairros periféricos, visitas em feiras com pequenos produtores, caminhadas guiadas por historiadores apaixonados por uma rua específica da cidade. Em todos esses casos, a presença do guia me fez ver o lugar com outra lente. Uma lente mais humana, mais crítica, mais viva.
Claro que nem todo guia oferece isso. Por isso, escolho com atenção: leio avaliações, busco indicações, olho pra proposta além do preço. Quando acerto, sei que aquela experiência vai valer mais do que qualquer atração por conta própria.
O filtro final: isso tem a ver comigo agora?
No fim das contas, nenhum critério é mais importante do que esse.
Tem dias em que o meu melhor passeio é um almoço sem hora pra acabar. Tem dias em que é visitar uma biblioteca pequena, ou caminhar até cansar num bairro desconhecido. Tem dias em que é não fazer nada, só observar.
Por isso, mesmo com toda a pesquisa, com toda a preparação, eu deixo espaço. Espaço pra mudar de ideia. Pra escutar o que o corpo pede. Pra sair do plano se aparecer algo mais bonito, mais vivo, mais meu.
Meu roteiro é mais uma intenção do que uma obrigação. E quando eu respeito isso, volto mais leve. Volto com a sensação de que estive lá de verdade. Porque fui eu quem escolheu — em cada passo, em cada garfada, em cada sim.
Quando dá errado: o que uma má escolha também ensina
Nem toda experiência é encantadora — mas quase toda escolha tem algo pra dizer
Mesmo com todo cuidado, com toda pesquisa, com toda escuta… às vezes a gente erra.
Escolhe um restaurante ruim, vai num lugar que não conecta, insiste numa visita que não precisava ter feito. E quando isso acontece, eu respiro e tento lembrar: isso também faz parte.
Já sentei em restaurante com cheiro ótimo e comida sem alma. Já entrei num museu que prometia muito e entregou só cansaço. Já fiz passeio guiado que parecia uma excursão de colégio, sem espaço pra pausa ou contemplação. E sim, na hora dá uma frustração. Mas hoje eu consigo olhar pra essas situações com outro tipo de escuta.
Porque mesmo uma escolha ruim carrega informação. Às vezes ela me mostra o que eu não quero repetir. Às vezes me revela algo sobre mim naquele momento. Tem dia que eu tô mais impaciente, mais cansada, mais exigente. E aí não adianta: nem o melhor prato vai me tocar, nem a paisagem mais bonita vai me emocionar.
Outras vezes, o erro vira história. Daquelas que a gente conta depois rindo. Um prato intragável, um lugar bizarro, uma visita que durou cinco minutos. São partes do roteiro que não estavam planejadas — e que, de algum jeito, também ajudam a construir a memória da viagem.
Eu gosto de lembrar que não preciso extrair significado de tudo. Às vezes a experiência simplesmente foi ruim. E tudo bem.
A escolha seguinte pode ser melhor. A próxima refeição pode surpreender. A cidade pode te mostrar outro rosto no dia seguinte.
Viajar com presença também é isso: aceitar que a gente não tem controle sobre tudo. E que, se a gente se permite observar, até o que não deu certo pode devolver algo valioso.
Escolher com calma é o melhor roteiro que eu conheço
Viajar com intenção não significa acertar sempre. Significa estar atenta — ao lugar, ao momento, e principalmente a si mesma.
Ao longo do tempo, fui entendendo que as melhores experiências de uma viagem não dependem só do destino, mas da qualidade das escolhas que faço.
Escolher onde comer, o que visitar, o que evitar ou onde parar um pouco… tudo isso vai costurando o tom da viagem. E quando essas decisões são feitas com presença, até o mais simples pode se tornar memorável.
Nem sempre vou escolher certo. Nem quero. Porque viajar também é errar, mudar de ideia, ajustar o caminho. Mas se tem uma coisa que eu levo comigo, é esse filtro mais afinado. Um olhar que já aprendeu a perceber o que vale o meu tempo — e o que pode esperar.
Se você também sente que quer viver as viagens com mais verdade e menos roteiro pronto, fica aqui comigo. Ainda tenho muito pra compartilhar sobre esse jeito mais consciente de estar por aí, no mundo.