Nem toda viagem começa com o destino. Às vezes, começa com um convite. Outras, com uma vontade. Já viajei sozinha, em dupla, em grupo. Já fui com tudo planejado, e já fui decidindo na hora. O que aprendi é que o formato da viagem — com quem, como, em que ritmo — influencia tanto quanto o lugar onde ela acontece.
Hoje, antes de pensar em passagens, hospedagem ou roteiro, eu observo outra coisa: como essa viagem quer ser vivida. Tem viagens que pedem autonomia. Outras, pedem conversa boa no fim do dia. Algumas funcionam melhor quando cada uma faz o seu caminho e se encontra pra um café. E tem aquelas que só fazem sentido quando há sintonia no coletivo.
Não sigo fórmula, mas também não improviso tudo. Já vivi experiências nos três formatos, e com o tempo fui entendendo o que cada um oferece — e o que cada um exige.
Saber como viajar sozinha ou acompanhada com leveza e presença virou uma das minhas formas preferidas de organizar cada viagem.
Não é sobre fórmula — é sobre encaixe.
Esse artigo não é sobre escolher o “jeito certo” de viajar. É sobre reconhecer o que funciona pra você, pra aquele destino, pra esse momento. Aqui eu compartilho como eu me organizo, o que observo e o que me ajuda a fazer cada formato funcionar — sem deixar de lado o que importa pra mim.
Quando vou sozinha: praticidade, roteiro claro e liberdade medida
Viajar sozinha, pra mim, é menos sobre ter tempo comigo mesma — e mais sobre ter autonomia. Poder escolher onde ir, como me mover e em que ritmo viver aquele lugar sem precisar negociar cada passo.
Mas autonomia não é sinônimo de improviso. Ao contrário: quando estou sozinha, me planejo mais. Escolho com antecedência onde quero ficar, o que quero visitar, como vou me deslocar — e deixo margem entre tudo isso. Não pra “ver se surge algo”, mas pra não me cobrar mais do que o necessário.
Normalmente já sei quais lugares quero conhecer, onde pretendo almoçar ou jantar, quais trajetos exigem mais atenção. Tenho uma ideia clara dos bairros que quero explorar e dos horários ideais pra fazer isso. Uso mapa offline, deixo os principais pontos salvos e avalio antes se o transporte local vai me atender — ou se vale contratar algum serviço privado pra trechos específicos.
Gosto de montar um roteiro funcional, que me poupe tempo e energia. Mesmo que eu acabe mudando de ideia lá na hora, ter esse roteiro me dá estrutura. É como saber pra onde voltar se tudo sair do plano.
Também presto atenção em detalhes que fazem diferença quando a gente está só:
se o lugar que escolhi pra jantar é tranquilo o suficiente pra eu me sentir bem, se o trajeto até o hotel à noite é simples, se tem farmácia ou mercado por perto pra qualquer necessidade. Já deixei de ir a certos pontos turísticos porque percebi que o acesso era complicado demais sem carro — e achei que não valia forçar. Sozinha, meu filtro é outro. E ele funciona.
Gosto também de criar pequenos pontos de retorno no lugar: aquele café onde volto mais de uma vez, uma praça onde paro sempre que passo, um cantinho que se torna minha mini rotina. Isso me dá a sensação de “pertencer”, mesmo que temporariamente. Já teve viagem em que só esse hábito de voltar ao mesmo café no fim do dia fez tudo se encaixar.
E, entre todas as experiências, alguns destinos se destacaram.
Londres foi um deles — pela facilidade de circular, pela diversidade de programas possíveis num mesmo dia, pelo anonimato confortável que a cidade oferece. E Tiradentes também: cidade pequena, bonita, segura, cheia de possibilidades pra andar, parar, observar, comer bem.
Foram duas viagens sozinha em formatos bem diferentes — e ambas funcionaram porque respeitaram o que eu buscava ali.
Agora, se tem um lugar onde eu fui sozinha e já sei que quero voltar com amigas, é Florença. Na época, amei andar por tudo, entrar e sair das igrejas, comer sozinha em cantina pequena. Mas ficou a vontade de dividir aquele tipo de beleza com alguém. Tem lugares que merecem conversa depois de um museu, uma risada no meio do caminho, uma pausa a mais num vinho.
Viajar sozinha, pra mim, é liberdade com estrutura.
É não depender de ninguém — mas também não precisar carregar o mundo nas costas.
E, acima de tudo, é lembrar que uma viagem feita por conta própria não precisa ser solitária, nem improvisada. Ela só precisa ter intenção.
Quando viajo com uma amiga: sintonia é mais importante que roteiro
Viajar com uma amiga pode ser incrível — desde que exista sintonia real. Não tô falando de gostar das mesmas coisas o tempo todo. Tô falando de saber respeitar espaço, ritmo e escolha. Já fiz viagens onde a afinidade foi tanta que a gente mal precisava conversar pra entender o que a outra queria. E já vivi o contrário também.
Hoje, quando combino uma viagem com alguém, o que me guia não é o destino — é a disposição mútua de viver bem juntas aquele tempo. Pode ser uma cidade histórica ou uma capital agitada, se tiver leveza no vínculo, tudo flui.
Antes de ir, gosto de conversar sobre expectativas. A gente precisa estar mais ou menos na mesma página: quanto quer gastar, o que topa dividir, o que faz questão de viver. Já deixei de convidar pessoas queridas por saber que não encaixaríamos naquele momento — e tudo bem. Viagem não é teste de amizade. É escolha de convivência.
Na prática, funciona quando cada uma tem liberdade pra propor, ceder e também fazer o que quiser sozinha, se for o caso. Já fiz viagem onde a gente se encontrava só pra jantar, e foi ótimo. O importante é que tudo isso seja claro antes — pra não virar ruído depois.
Evito planejar tudo em conjunto. Cada uma cuida de uma parte: uma pesquisa hospedagem, a outra vê onde comer, ou monta um esboço do que tem no destino. Assim ninguém se sobrecarrega. E tem um detalhe: viajo melhor com quem entende que silêncio também é companhia. Que não precisa preencher todos os espaços com fala, nem todos os dias com agenda.
Uma viagem com amiga boa tem pausas compartilhadas e autonomia preservada. Tem troca sem esforço, e decisões sem tensão. Quando a energia da outra soma, tudo tem mais graça: um prato novo, uma trilha inesperada, uma loja que virou pausa.
Lembro de uma viagem a Paraty com uma amiga de muitos anos. A gente ficou em uma pousada perto do centro, mas longe o suficiente do barulho. Passamos o dia andando, paramos num café antigo, fizemos um passeio de barco só nós duas — e teve espaço pra silêncio, pra improviso, pra cada uma respirar no seu tempo. Quando voltei, percebi que nem lembrava direito dos pontos turísticos — mas lembrava das conversas. Do café na varanda. Da tranquilidade de não precisar explicar quem a gente era ali.
Esse tipo de viagem me marca não pelo lugar, mas pelo que a relação permite viver com mais leveza. E isso, pra mim, é o melhor tipo de companhia: aquela que multiplica o lugar, sem ocupar o espaço.
Quando viajo em grupo: energia, margem e autocuidado
Viajar em grupo pode ser leve — mas só se cada uma souber respeitar o ritmo das outras. Já fiz viagens com mais gente que funcionaram bem porque ninguém tentou transformar aquilo numa colônia de férias. Cada uma tinha sua margem. Cada uma sabia sair de cena quando precisava.
Hoje, se vou em grupo, prefiro os menores. Até quatro pessoas é o número que me deixa confortável. Mais do que isso, já começa a virar uma pequena gestão de vontades. E eu gosto de viajar com fluidez, não com votação.
Mas isso não quer dizer que eu nunca tenha topado grupos maiores. Já fiz uma viagem com oito pessoas pra Porto de Galinhas, numa despedida de solteira. Foi intensa, barulhenta, cheia de ajustes — e divertida também. Sabia que não seria uma viagem de descanso, e fui com essa expectativa. Acho que o segredo ali foi justamente esse: não esperar de um grupo o que ele não vai oferecer.
Por outro lado, algumas das experiências em grupo que mais gostei foram aquelas com mais estrutura — como um cruzeiro que fiz com amigas, ou uma viagem de trem entre cidades da Europa. Nesse tipo de roteiro, boa parte da logística já vem pronta. Isso ajuda a não desgastar o grupo com decisões o tempo todo. Cada uma escolhia o que queria fazer nas paradas, e nos encontrávamos depois com histórias diferentes. Funcionava porque havia liberdade — e um combinado de não se prender.
O que me desgasta num grupo é a falta de clareza: ninguém assume nada, mas todo mundo opina. Ou aquela cobrança sutil pra todo mundo fazer tudo junto o tempo inteiro. Gosto de viajar com quem entende que cada uma tem seu tempo — e que estar junto não significa estar colada.
Também observo quem vai. Se tem alguém que reclama demais, ou que leva tudo pro pessoal, penso duas vezes. Já aprendi que uma pessoa com energia desalinhada pode cansar mais do que o próprio roteiro.
Em grupo, cuido da minha margem. Se preciso descansar, não tenho problema em sair de cena. Se quero fazer algo sozinha, aviso com leveza e sigo. Já vivi viagens em que essa autonomia foi o que salvou o coletivo — cada uma respeitando seus limites e contribuindo de forma diferente.
Viajar em grupo, pra mim, funciona quando existe liberdade dentro do coletivo. Quando ninguém precisa ser o centro — e todo mundo entende que o melhor da viagem não é fazer tudo igual, mas voltar com memórias que fazem sentido pra cada uma.
O melhor jeito de viajar é o que encaixa naquele momento
Não existe uma forma certa de viajar. Existe o que faz sentido agora — com o tempo que você tem, com o lugar que escolheu, com a energia que quer viver ali.
Já tive viagens que só funcionaram porque fui sozinha, com meu ritmo e meu silêncio. Outras, que só existiram porque uma amiga topou viver aquilo comigo. E algumas que viraram memória coletiva — daquelas que não dariam certo de outro jeito.
Hoje, não tento mais encaixar tudo em uma fórmula. Observo. Escolho. E, principalmente, me permito mudar de ideia. Tem fases em que quero companhia pra tudo. Tem outras em que preciso da minha margem. E, às vezes, o destino aparece antes — e eu só preciso entender quem faz sentido dividir aquilo comigo.
Se você também tá repensando o seu jeito de viajar, talvez a resposta não esteja no formato — mas na liberdade de ajustar esse formato ao que você vive agora.
E se quiser compartilhar:
qual foi a viagem mais bem acompanhada que você já fez?
E qual foi aquela que te fez redescobrir sua própria companhia?
Me conta nos comentários — ou manda esse texto pra alguém com quem você adoraria dividir a próxima estrada.