Tem viagens que a gente sonha antes mesmo de saber o que quer ver.
A Grécia apareceu pra mim assim: como uma sensação. Um azul que não era só cor, era respiro. Um calor de pedra antiga. Uma brisa de lugar onde o tempo não corre — só passa.
Eu não fui até lá pra cumprir uma lista. Fui pra encontrar.
Encontrar aquela versão minha que ainda se encanta com um mar absurdo de bonito, com ruínas que guardam séculos em silêncio, com gente que senta pra conversar mesmo sem falar a mesma língua.
E foi isso que vivi — entre escadarias brancas de Santorini, cafés com cheiro de anis em Paros, pôr do sol escondido em Mykonos e dias inesperados em Atenas, que me ensinaram que às vezes o melhor da viagem vem de onde a gente não espera nada.
Se você chegou aqui querendo entender como montar um roteiro de 15 dias pelas Ilhas Gregas sem perder tempo nem alma, fica comigo.
Esse texto não vai te dar um cronograma fechado.
Mas vai te contar o que eu vivi, o que funcionou, o que eu faria diferente — e o que talvez te ajude a montar um roteiro mais seu.
Antes de decidir: o que eu sabia (e o que precisei entender na prática)
Não faltam roteiros prontos na internet quando o assunto é Grécia.
“Faça Atenas + Mykonos + Santorini em 7 dias”, dizem. Parece fácil, prático, suficiente.
Mas se você é como eu — e desconfio que seja — sente que tem algo forçado nesse formato.
Porque não é só sobre onde ir. É sobre como viver.
E em que ritmo o seu corpo e sua alma conseguem acompanhar sem perder o gosto.
Eu comecei essa viagem com o desejo de ver o que sempre me encantou nas fotos.
Mas também com a intuição de que, se seguisse só os caminhos mais óbvios, ia voltar com o álbum cheio… e a memória meio vazia.
Por isso, deixei o roteiro tradicional de lado — e fui descobrir o que cabia mesmo no meu tempo, no meu corpo e na minha vontade.
O mito do “roteiro perfeito” em sete dias
O que ninguém conta é que os deslocamentos entre as ilhas não são tão rápidos quanto parecem.
Que cada travessia exige tempo real — check-out, espera, ferry, chegada, adaptação.
E que você pode passar metade da viagem trocando de lugar, sem tempo pra se sentir em nenhum.
Na prática, sete dias funcionam só se você abrir mão de profundidade.
Funciona pra quem quer ver, registrar e seguir.
Mas não era isso que eu queria.
E talvez não seja isso que você quer também.
Como escolhi meu caminho: desejo, logística e um pouco de ousadia
Eu queria as clássicas, sim — Mykonos e Santorini têm seus motivos pra serem queridas.
Mas queria também uma Grécia menos polida, mais silenciosa.
Escolhi começar por Atenas, porque queria sentir o peso da história antes de mergulhar no azul das ilhas.
Depois, distribui o roteiro pensando no que fazia sentido pra mim:
tempo em cada lugar, distância real entre as ilhas, meu próprio ritmo de cansaço e encantamento.
Não montei esse roteiro com Excel.
Montei escutando relatos, testando combinações, imaginando o que seria exagero — e o que seria leve.
É disso que nasce um caminho possível: não de fórmulas, mas de escolhas com critério e intenção.
E se eu puder, agora, te ajudar a montar o seu… vamos seguir juntas.
Como me movi entre as ilhas: o que funcionou e o que complicou
Foi justamente por perceber a dança meio forçada de alguns roteiros prontos que resolvi dar mais tempo pra essa viagem.
Quinze dias. Não pra correr — mas pra ter espaço de verdade entre um deslocamento e outro.
Pra permitir deslocamentos com respiro, e não como ponte corrida entre um ponto e outro.
E vou te dizer: foi a melhor decisão que tomei.
Viajar pelas ilhas gregas é simples no papel, mas tem suas curvas escondidas.
O ferry não é só o tempo de travessia. É o deslocamento até o porto, o check-in (que às vezes é quase uma maratona), a espera que sempre dura mais do que devia, e o tempo de se situar no destino seguinte.
Ferry ou avião? O que faz mais sentido (e quando)
De Atenas a Santorini, optei por avião.
O voo dura menos de uma hora e já me poupou um dia inteiro de deslocamento por mar — que é lindo, sim, mas exige tempo e paciência.
Já entre Santorini e Paros (ou Folegandros, se for sua escolha), o ferry foi a melhor pedida.
As conexões entre essas ilhas costumam ser diretas e bem organizadas.
Mas aqui vai um detalhe importante: a maioria dos ferries é marcada por empresas diferentes, e os horários mudam conforme a temporada.
Usei o site Ferryhopper pra pesquisar e reservar tudo com antecedência — e foi a salvação.
De Paros pra Mykonos, segui também de ferry.
Uma travessia curta, tranquila, e que me deu até vontade de esticar o café da manhã antes de embarcar.
O trio da calma: mala, check-in e adaptação
Uma coisa que aprendi logo no primeiro trecho: quem viaja de ilha em ilha precisa de uma mala que coopere.
Carregar mala grande por escadaria de vila grega não tem glamour — só suor.
Levei uma média, com rodinhas boas, e uma mochila leve. Isso me salvou.
Outra dica que talvez soe boba, mas é ouro: chegue cedo no porto.
Mesmo nas ilhas mais tranquilas, os ferries não têm a mesma lógica de embarque de um aeroporto.
Às vezes não tem placa. Às vezes muda o portão. Às vezes você vê a multidão correndo e descobre que era o seu barco.
Reservei hospedagens próximas dos portos sempre que possível nos dias de transição.
Essa foi uma estratégia pequena, mas que me deu um respiro enorme entre uma ilha e outra.
E talvez a parte mais subestimada: tempo pra se adaptar.
Cada ilha tem uma energia. Um tempo diferente. Um silêncio próprio.
Se você chega, larga as malas e já quer explorar tudo… perde o melhor da viagem: o encaixe com o lugar.
O que vivi em cada ilha: entre o que esperava e o que me surpreendeu
Uma das coisas mais bonitas dessa viagem foi perceber que cada ilha tinha um tempo próprio — e uma versão diferente de mim mesma esperando por ela.
Por mais que eu tivesse lido bastante antes de ir, nada substitui o que a gente sente ao chegar.
Algumas coisas surpreenderam, outras frustraram um pouco.
Mas o que todas me deram — sem exceção — foi a chance de experimentar a Grécia com os pés no chão e o coração disposto a viver, não só a visitar.
O que vem a seguir não é um roteiro fixo, nem um guia com fórmulas.
É uma partilha honesta do que funcionou, do que eu deixaria diferente, do que valeu cada minuto — e do que eu só entendi depois de viver.
Se você estiver montando o seu caminho, talvez aqui encontre um ponto de partida mais humano, mais possível — e mais seu.
Atenas: quando o mapa ainda é branco, mas a história já está por toda parte
Atenas foi meu ponto de partida. Mas, na prática, era tudo começo.
Começo de viagem, começo de caminho, começo de um tipo de curiosidade que eu ainda não tinha testado.
Nunca tinha estado ali antes.
Sabia o básico — civilização, filosofia, Partenon — e achava que isso bastava.
Mas não bastou. Porque em Atenas, tudo que você acha que sabe se expande ou quebra.
Nada ali é sutil. Nada é só bonito. Tudo tem uma densidade que não dá pra passar correndo.
Foi uma cidade que me fez parar de buscar estética pra começar a enxergar significado.
E quando isso aconteceu, o olhar mudou.
Eu não queria mais ver os pontos turísticos.
Eu queria entender por que essa cidade ainda pulsa como se fosse o centro do mundo, mesmo quando todo mundo correu pras ilhas.
Os clássicos com os olhos de quem chegou agora
Eu fui à Acrópole achando que ia ver um templo.
Mas o que eu vi foi um manifesto.
O Partenon não é só o que sobrou — ele é o que continua resistindo.
Erguido no século V a.C., em homenagem à deusa Atena, o templo é símbolo de um tempo em que a filosofia, a arte e a democracia estavam nascendo juntas.
Cada coluna é levemente curvada, cada ângulo pensado pra parecer perfeito. Tudo feito a olho nu, com cálculo humano, sem exagero.
E o mais bonito? Ainda funciona. Ainda emociona.
Ali em cima, com o vento seco e o sol batendo de lado, você vê a cidade como um palimpsesto:
camadas de tempo, de história, de resistência.
Na descida, me detive na Ágora Antiga.
Ali, onde os cidadãos debatiam política, onde Sócrates provocava reflexões em praça pública, hoje há ruínas e árvores — mas também um eco.
Você sente que algo nasceu ali e ainda não terminou.
Seguindo esse mesmo ritmo, fui até o Templo de Zeus Olímpico, e ele me pegou de surpresa.
Eu achava que era só uma ruína qualquer. Mas quando vi aquelas colunas soltas, com 17 metros de altura, no meio da cidade, percebi que não era o que sobrou — era o que continua.
O templo levou quase 700 anos pra ser concluído. Começou no século VI a.C. e só terminou no século II d.C., sob o imperador Adriano.
O que vivi em cada ilha: entre o que esperava e o que me surpreendeu
Uma das coisas mais bonitas dessa viagem foi perceber que cada ilha tinha um tempo próprio — e uma versão diferente de mim mesma esperando por ela.
Por mais que eu tivesse lido bastante antes de ir, nada substitui o que a gente sente ao chegar.
Algumas coisas surpreenderam, outras frustraram um pouco.
Mas o que todas me deram — sem exceção — foi a chance de experimentar a Grécia com os pés no chão e o coração disposto a viver, não só a visitar.
O que vem a seguir não é um roteiro fixo, nem um guia com fórmulas.
É uma partilha honesta do que funcionou, do que eu deixaria diferente, do que valeu cada minuto — e do que eu só entendi depois de viver.
Se você estiver montando o seu caminho, talvez aqui encontre um ponto de partida mais humano, mais possível — e mais seu.
Atenas: quando o mapa ainda é branco, mas a história já está por toda parte
Atenas foi meu ponto de partida. Mas, na prática, era tudo começo.
Começo de viagem, começo de caminho, começo de um tipo de curiosidade que eu ainda não tinha testado.
Nunca tinha estado ali antes.
Sabia o básico — civilização, filosofia, Partenon — e achava que isso bastava.
Mas não bastou. Porque em Atenas, tudo que você acha que sabe se expande ou quebra.
Nada ali é sutil. Nada é só bonito. Tudo tem uma densidade que não dá pra passar correndo.
Foi uma cidade que me fez parar de buscar estética pra começar a enxergar significado.
E quando isso aconteceu, o olhar mudou.
Eu não queria mais ver os pontos turísticos.
Eu queria entender por que essa cidade ainda pulsa como se fosse o centro do mundo, mesmo quando todo mundo correu pras ilhas.
Os clássicos com os olhos de quem chegou agora
Eu fui à Acrópole achando que ia ver um templo.
Mas o que eu vi foi um manifesto.
O Partenon não é só o que sobrou — ele é o que continua resistindo.
Erguido no século V a.C., em homenagem à deusa Atena, o templo é símbolo de um tempo em que a filosofia, a arte e a democracia estavam nascendo juntas.
Cada coluna é levemente curvada, cada ângulo pensado pra parecer perfeito. Tudo feito a olho nu, com cálculo humano, sem exagero.
E o mais bonito? Ainda funciona. Ainda emociona.
Ali em cima, com o vento seco e o sol batendo de lado, você vê a cidade como um palimpsesto:
camadas de tempo, de história, de resistência.
Na descida, me detive na Ágora Antiga.
Ali, onde os cidadãos debatiam política, onde Sócrates provocava reflexões em praça pública, hoje há ruínas e árvores — mas também um eco.
Você sente que algo nasceu ali e ainda não terminou.
Seguindo esse mesmo ritmo, fui até o Templo de Zeus Olímpico, e ele me pegou de surpresa.
Eu achava que era só uma ruína qualquer. Mas quando vi aquelas colunas soltas, com 17 metros de altura, no meio da cidade, percebi que não era o que sobrou — era o que continua.
O templo levou quase 700 anos pra ser concluído. Começou no século VI a.C. e só terminou no século II d.C., sob o imperador Adriano.
Hoje, restam quinze colunas — e elas sustentam mais que pedra. Elas desafiam o tempo.
E pra completar esse circuito que mais parece uma trilha de tempo, fui até o Estádio Panatenaico — o único estádio do mundo feito inteiramente de mármore.
Ele foi palco dos primeiros Jogos Olímpicos modernos, em 1896, mas foi construído sobre uma arena da Grécia Antiga.
Andei até o centro da pista, sentei nas arquibancadas vazias, ali onde o passado olímpico foi reinventado, senti que Atenas nunca saiu de cena.
Anafiotika: a ilha escondida no coração de Atenas
Anafiotika não parece Atenas. Parece um delírio branco e azul que subiu escondido pela colina
Ele é um bairro minúsculo, encravado na encosta norte da Acrópole, bem atrás do Museu de Arte Grega. E parece que foi colocado ali como um sussurro — quase um segredo entre as pedras.
Foi construído no século XIX por artesãos da ilha de Anafi, chamados a Atenas pra reformar o palácio do rei Otto. Eles vieram com saudade de casa, e o que fizeram?
Começaram a erguer, no alto da colina, casas brancas com janelas azuis, escadas de pedra, hortas improvisadas — tudo como nas Cíclades.
Só que fizeram sem autorização.
Na época, o governo fechava os olhos — depois tentou demolir tudo. Mas o bairro resistiu.
E ainda está ali: um pedaço das ilhas, no meio da capital.
Hoje, Anafiotika tem menos de 50 casas habitadas, e cada uma parece carregar a memória de várias gerações.
Não tem cafés. Não tem lojas. Não tem placas turísticas.
Só silêncio, cheiro de manjericão, e gatos que se espreguiçam nas soleiras.
Andar por ali foi uma das partes mais bonitas da minha passagem por Atenas.
Porque o bairro não entrega “grandeza”.
Ele entrega pausa, intimidade e uma estética que não se explica — se sente.
Do alto de uma viela, com o pôr do sol batendo de lado, dá pra ver a cidade inteira embaixo.
E naquele contraste entre caos urbano e calma cicládica, Anafiotika parece te lembrar que dá pra resistir sendo pequeno.
Comer bem sem fazer esforço (e entender a cidade sem entender tudo)
A primeira coisa que você precisa saber sobre comer em Atenas: não vá só pelos nomes famosos.
A cidade te entrega sabor em cada esquina — especialmente nas mais bagunçadas.
Um dos lugares mais marcantes foi uma taverna sem nome, onde comi peixe fresco com limão e sal, uma porção enorme de fava (purê de grão-de-bico amarelo) e o pão mais crocante da viagem.
Tudo simples. Tudo bom.
O tipo de refeição que não aparece no Instagram, mas que fica na memória.
Em outro dia, experimentei galaktoboureko — um doce grego com creme e massa folhada — comprado numa confeitaria de bairro.
Comi sentada num banco de praça, ouvindo música grega sair da janela de alguém.
Nem parecia cena de viagem. Parecia vida.
Pedi um souvlaki na rua — carne, pão pita, tzatziki gelado. Comi em pé, vendo a vida passar. Era simples, mas parecia que o gosto vinha do calor da calçada.
Fui ao mercado central de Varvakios, vi barracas de azeitonas que mais pareciam joalherias, e entrei num lugar que vendia queijo feta feito ali mesmo.
Sai com um pedaço embrulhado em papel grosso e a sensação de que isso sim era souvenir.
E entre uma caminhada e outra, fui descobrindo que Atenas é feita de pausas.
Uma sombra. Um café grego forte. Uma conversa com quem nem tenta falar inglês, mas te entende do mesmo jeito.
E se der tempo (ou coragem): vá além da superfície
Se tiver um respiro entre os clássicos, Atenas guarda mais camadas — daquelas que o turismo tradicional ainda não levou embora.
Começa pelo Museu de Arte Cicládica, que parece pequeno mas é uma joia.
Lá dentro, vi esculturas feitas há mais de 4 mil anos — figuras femininas em mármore branco, com formas mínimas, quase modernas.
Elas eram usadas como oferendas, amuletos, talvez deuses. Ninguém sabe ao certo.
Mas ali, no silêncio do museu, dá pra sentir que aquelas peças têm alma.
Se quiser algo mais vibrante, o bairro de Psiri pode surpreender.
Ele já foi decadente, industrial, quase esquecido. Mas hoje respira criatividade: tem arte de rua nas fachadas, brechós pequenos, bares escondidos em galpões e lojas que parecem montadas por artistas.
Ali, tudo tem cara de improviso, mas nada é por acaso.
E se a viagem coincidir, veja se há algum espetáculo no Odeão de Herodes Ático — o teatro romano na base da Acrópole.
Ainda hoje, ele recebe concertos, peças e óperas.
E imagina ouvir uma voz ecoando em colunas do século I?
É o tipo de experiência que nem precisa de legenda — porque você sente no corpo.
Ah — e tem também o bairro de Koukaki, bem próximo à Acrópole.
Ele ainda não virou modinha, mas já tem cafés com alma, lojinhas de cerâmica, pequenas galerias.
Se Anafiotika é o passado quieto, Koukaki é o presente leve.
Santorini além da foto: o que existe por trás do postal
Santorini entrou no meu roteiro quase como quem obedece a uma ideia coletiva.
Era o cartão-postal da Grécia. A ilha das fotos perfeitas, dos pores do sol aplaudidos, das escadas brancas com cúpulas azuis que viraram desejo global.
E eu fui — claro que fui.
Mas se tem uma coisa que essa viagem me ensinou é que os lugares mais fotografados também podem ser os mais mal compreendidos.
Porque Santorini é linda, sim. Mas não só.
Ela é também quente, desafiadora, seca, cheia de subidas, cheia de gente, cheia de camadas.
E talvez por isso tenha me marcado tanto.
Eu cheguei ali com o olho treinado pra beleza. Mas o que me prendeu foi a textura.
A textura das pedras vulcânicas sob os pés.
Do vento salgado na pele quando você vira uma viela e dá de cara com o mar lá embaixo.
Do silêncio que aparece nos lugares onde os turistas não param.
Porque tem um detalhe: Santorini não é plana. Nem no relevo, nem na experiência.
É uma ilha feita de extremos. De contrastes. De zonas que se reinventam a cada curva.
E, pra mim, o segredo foi parar de correr entre os pontos turísticos e começar a explorar como quem procura algo que ainda não sabe o nome.
Foi quando entendi que, por trás da fotografia vendável, existe uma ilha que já sobreviveu a uma erupção que quase a apagou do mapa.
E que hoje convida quem chega a pisar mais leve — e olhar mais fundo.
Nesse bloco, vou te mostrar como foi viver Santorini com tempo, com presença e com escolhas que foram além do óbvio.
Te conto da trilha que fez meu coração desacelerar entre Fira e Oia.
Das ruínas enterradas que me levaram 3.500 anos pra trás.
Dos vilarejos onde ninguém sorri pra selfie, mas onde fui recebida com pão fresco e conversa sincera.
Aqui não tem check-list.
Tem memória, tem mapa afetivo e tem descoberta.
Se é isso que você procura, vem comigo.
De Fira a Oia a pé: quando caminhar costura os pedaços da ilha
Essa trilha entre Fira e Oia é daquelas experiências que só fazem sentido depois que você vive. Quando ouvia falar, parecia exagero — 10 km, subida, descida, sol. Só que quando você entende o que está no caminho, o esforço vira uma forma de absorver a ilha.
Começa em Fira, que é a capital e também o primeiro contato com a Santorini mais movimentada. Cheia de lojas, agências, restaurantes com varandas panorâmicas. Tudo ali parece pronto pra turista. E é. Mas, mesmo com o excesso, tem algo de encantador. O som dos sinos das igrejas, a vista das casinhas encaixadas na encosta, e aquele azul absurdo que separa o céu do mar.
Quando comecei a andar, percebi como as paisagens vão mudando devagar. O agito de Fira dá lugar a Firostefani, que é quase uma extensão, mas já com outro clima. Menos comércio, mais vizinhança. Vi portas abertas, roupas secando ao sol, moradores sentados na calçada. Ali, a vista é uma das mais impressionantes — e não tem multidão disputando lugar pra foto.
Logo depois, você chega em Imerovigli, que foi um dos meus lugares preferidos. Mais alto, mais espaçado, mais silencioso. É o tipo de lugar que parece desenhado por alguém que ama observar. Os hotéis ali têm menos ostentação, mais elegância discreta. Tem uma igrejinha no caminho, daquelas com a cúpula azul e um banco em frente — sentei ali sem pressa, porque dava pra ver quase a ilha inteira.
Nesse ponto do caminho, já faz calor. O chão alterna entre pedra e terra batida. A inclinação cansa, mas não pesa. O vento compensa. E em vários momentos, você se vê sozinha. É curioso como a trilha é famosa, mas não é lotada. Talvez porque as pessoas escolhem ir de carro, ou porque acham que vai ser puxado demais. Mas foi uma das melhores decisões que tomei nessa viagem.
Pelo caminho, cruzo por um casal que parou pra abrir uma fruta, uma mulher sentada num muro com um lenço na cabeça e um sorriso bom. Um cachorro atravessa a trilha e some no mato. Tudo é simples, mas tudo marca.
E quando Oia começa a aparecer no horizonte, você já sente que valeu.
Chegar em Oia a pé é outra coisa. Não é como descer do carro e procurar o mirante. Você chega respirando a ilha, sabendo a distância real entre os lugares. Oia é linda. É mais arrumada, mais “cenário”, mais tudo. Mas também mais cheia, mais performática. Só que, depois da trilha, ela não te engole. Você chega inteira. E percebe que o melhor talvez não seja o ponto de chegada — mas o caminho até ele.
Fiz essa trilha sem guia, só com um mapa offline no celular (que mal usei), uma garrafinha d’água e um ritmo tranquilo. Nada de preparo físico de atleta. Só vontade de ver a ilha se transformando diante dos olhos, sem janela de carro, sem pressa.
E foi assim que eu conheci de verdade essas quatro cidades — conectadas pelo chão e pela sensação de que, às vezes, caminhar é o jeito mais sincero de viajar.
Akrotiri e o tempo soterrado
Se Santorini parece cenário de filme quando você olha pra cima, Akrotiri é quando você decide olhar pra baixo. E descobrir que essa ilha, hoje disputada por turistas e fotógrafos, já foi — literalmente — coberta por cinzas.
Eu não sabia muito antes de ir. Tinha lido algo sobre “a Pompéia da Grécia”, mas confesso que fui mais pela curiosidade do que pela certeza.
E ainda bem.
Akrotiri é um sítio arqueológico preservado com uma precisão impressionante. A cidade foi soterrada por uma erupção vulcânica catastrófica por volta de 1600 a.C., e o que está lá agora não são só pedras — são vestígios de uma civilização que sabia construir com elegância, que decorava as paredes com afrescos coloridos, que organizava ruas, casas de dois andares e sistemas de drenagem antes de muita parte do mundo imaginar o que era esgoto.
Cheguei cedo, comprei o ingresso na hora (12 euros), e levei umas duas horas pra ver com calma. Ir de manhã foi essencial: menos gente, luz boa e um silêncio mais inteiro.
Quando entrei, senti o ar mudar. O espaço é coberto, quase todo suspenso por passarelas, e o silêncio é natural — não por regras, mas por respeito mesmo. É estranho pensar que aquela erupção, que destruiu tudo, foi também o que permitiu que tudo isso chegasse até nós tão bem guardado.
O que mais me tocou não foi só ver os objetos ou a arquitetura. Foi imaginar as vidas interrompidas ali. Os potes com restos de alimento, os cômodos preservados, os espaços de convivência. É como se a cidade ainda respirasse por baixo das cinzas.
Uma curiosidade: nenhum corpo humano foi encontrado ali até hoje. Diferente de Pompéia, onde as pessoas foram surpreendidas pela lava, em Akrotiri tudo indica que os moradores conseguiram fugir a tempo. Isso, por si só, já muda a energia do lugar.
Não é um cenário de tragédia. É uma cápsula de civilização.
Fiz a visita sem guia, mas foi uma escolha consciente — queria caminhar no meu ritmo. Depois, li mais, reli algumas placas, fiz conexões com outras coisas que tinha visto na ilha.
E saí dali com outra visão sobre Santorini. Uma mais antiga, mais profunda.
É como se eu tivesse tirado uma camada da ilha e visto seu passado pulsando ainda ali, sob os pés.
Akrotiri fica na parte sul da ilha, perto da famosa Praia Vermelha. E mesmo que não esteja nos roteiros de quem busca só foto bonita, te digo com toda certeza: vale atravessar a ilha por isso.
Porque não é todo dia que você entra numa cidade de 3.500 anos e sai sentindo que ela ainda tem algo a dizer.
As praias que não parecem reais (e talvez não sejam)
Antes de chegar a Santorini, eu achava que praia era praia — com areia, água clara e guarda-sol. Só que aqui, o mar encontra pedra vulcânica, e a areia nem sempre é areia. Às vezes ela é preta, vermelha, quase roxa. Às vezes ela machuca um pouco o pé. Às vezes você não sabe se mergulha ou só observa.
Mas o que todas têm em comum é que não são óbvias.
A primeira que visitei foi a Red Beach, fica a uns 10 minutos a pé do estacionamento de Akrotiri, numa encosta que parece se abrir de repente pro mar. Eu já tinha visto fotos, claro — falésias vermelhas, água azul escura, um contraste de tirar o fôlego. Mas ver ao vivo é outra história.
O caminho até ela é meio acidentado, você caminha por um terreno de terra batida e pedras soltas, contornando a encosta. É um trajeto curto, mas que exige atenção. Cheguei lá no fim da manhã e o mar estava espelhado.
A praia é estreita, e quando o sol bate nas pedras, parece que tudo ali acende.
Mas vou ser sincera: é linda de olhar, de fotografar… mas não foi onde fiquei muito tempo. Tinha bastante gente, o espaço era pequeno, e o calor refletido nas rochas tornava tudo mais intenso.
Valia pelo visual, sem dúvida — mas não foi minha praia de sentar e passar o dia.
Depois fui conhecer a White Beach, que só se acessa de barco. Peguei um desses barquinhos que saem de Red Beach mesmo e fui. E olha… é um refúgio.
Menor, mais reservada, cercada por falésias claras que fazem contraste com o mar e criam um visual meio lunar. Aqui, a areia é grossa, cheia de pedrinhas brancas e cinzas, e a água é absurdamente transparente.
Não tem estrutura, não tem música, não tem vendedor. E talvez por isso tenha sido um dos lugares onde consegui, de fato, relaxar. Levei água, fruta e um livro — e fiquei.
Era silêncio, vento e mar. Só isso.
Mais pra frente na viagem, fui até o lado oposto da ilha, onde ficam Perissa e Kamari — as praias de areia preta. São mais planas, mais amplas, mais organizadas.
Em Perissa, encontrei espreguiçadeiras, restaurantes à beira-mar, gente local e turistas convivendo sem tensão. A areia preta esquenta muito sob o sol, mas o mar compensa. Raso, calmo, gostoso de entrar.
Kamari é mais movimentada, mais familiar. Lojas, cafés, bares com música leve ao entardecer.
Entre as duas, preferi Perissa. Mais solta, menos editada.
No fim, percebi que as praias de Santorini são tão diferentes entre si quanto os vilarejos da ilha. E que não tem “a melhor”. Tem a que combina com o que você precisa naquele dia.
Red Beach pra se impressionar.
White Beach pra se esconder.
Perissa pra pertencer.
E se tivesse mais um dia, teria voltado pra White. Só pra ficar mais uma tarde deitada na pedra, olhando o mar que não parece real, mas que — de algum jeito — virou memória.
Vinhos que contam histórias (e um doce que ficou na memória)
Eu já sabia que a Grécia tinha vinhos bons, mas Santorini foi onde aprendi o que significa beber um vinho que carrega a paisagem na garrafa.
A uva mais conhecida da ilha é a Assyrtiko, e ela cresce no meio das pedras vulcânicas, em vinhedos baixos, quase rasteiros, moldados como ninhos circulares no chão. Essa técnica, chamada de kouloura, é típica daqui — e não é estética, é sobrevivência: ela protege a planta dos ventos fortes e do sol seco da ilha.
O que nasce disso é um branco seco, mineral, às vezes até salino, que parece ter sido filtrado pelo calor da pedra.
A vinícola que visitei ficava no alto, entre Fira e Pyrgos, com vista pro mar e cheiro de lavanda seca no ar.
Fui no fim da tarde, sem pressa, e o lugar parecia ter parado no tempo. Me deram uma taça de Assyrtiko envelhecido em barril e, de onde eu estava sentada, dava pra ver o sol se esgueirando entre as parreiras curvadas. Era vinho com corpo — e com silêncio.
Conversei com o dono, que me contou que a videira da ilha quase não recebe chuva. Que tudo ali é feito devagar, do jeito que sempre foi. E que aquela safra, em especial, tinha vindo com menos volume, mas mais intensidade.
Não era papo de sommelier — era fala de quem pisa no chão antes de colher.
Na degustação, me ofereceram um doce que eu não conhecia: melitinia, uma tortinha feita com queijo fresco, canela e açúcar. Simples, morna, com cheiro de casa. Dizem que é mais comum na Páscoa, mas ali, naquele fim de tarde, parecia feita pra mim.
Não fui atrás do restaurante da moda, nem da sobremesa mais postada no Instagram. Fui atrás de comida que me parasse por dentro.
E encontrei.
Em Santorini, comer bem não é só possível. É quase inevitável.
Do peixe fresco servido com azeite grosso em tavernas à beira-mar, até os tomates doces que crescem quase sem água, tudo parece ter um sabor mais concentrado — talvez pelo solo, talvez pela história, talvez pela forma como o tempo se comporta na ilha.
O que ficou pra mim, além do gosto? A sensação de que aqui, o que se come e o que se bebe não foram inventados pra agradar turista.
Foram apenas mantidos.
E quando você chega com respeito, com curiosidade, com vontade de escutar — eles se revelam.
Pyrgos e os vilarejos onde a ilha respira devagar
Santorini é famosa por seus cenários que parecem cartões-postais, mas o que mais me encantou foram os lugares que não tentam posar pra foto. Pyrgos é um deles. Um vilarejo no alto da ilha, longe da badalação, onde a vida ainda segue em ritmo grego — e não em ritmo de turista.
Cheguei lá no meio da manhã, sem pressa e sem mapa. As ruas são estreitas, de pedra clara, e parecem ter sido desenhadas por alguém que gosta de curvas e silêncio. Aqui, ninguém disputa selfie. As casas são brancas, sim, mas não têm o acabamento perfeito de Oia. E é isso que encanta.
Em vez de vitrines de grife, tem padaria com cheiro de pão fresco. Em vez de fila pro pôr do sol, tem um senhor regando as flores da varanda, como se o tempo ainda obedecesse a uma lógica mais antiga.
No topo do vilarejo, tem um castelo veneziano em ruínas e uma vista que, honestamente, rivaliza com qualquer outra da ilha — mas com uma vantagem: quase ninguém ali. Subi até o alto e sentei num banco de pedra. Era o tipo de beleza que não grita. Que não se exibe. Só se mostra pra quem chega devagar.
Outro vilarejo que me atravessou foi Finikia, bem pertinho de Oia, mas que parece viver numa bolha de tempo. Passei por ele no fim do dia, sem planejar. Foi uma caminhada curta que virou encontro. Casas com arcos arredondados, portas coloridas, gatos dormindo nos telhados. Tinha cheiro de comida no ar e música que vinha de alguma casa escondida.
Aqui, Santorini não quer te impressionar. Só te acolhe.
Esses lugares não entram no “roteiro de 3 dias”.
Mas talvez sejam o que mais fica na memória.
Santorini: camadas que não cabem numa foto
Eu fui até Santorini com a expectativa de me encantar — e me encantei. Mas não pelos motivos óbvios.
Não foi só o pôr do sol em Oia, nem a vista dos hotéis pendurados na encosta. Foi o chão quente sob os pés. Foi o cheiro de pão saindo de uma casa em Pyrgos. Foi o silêncio de Akrotiri, que ainda sussurra a história de um povo inteiro.
Foi o vinho mineral. A praia escondida. A trilha que me deixou sozinha no meio da ilha — e feliz com isso.
Santorini me mostrou que até os lugares mais conhecidos podem ser surpresa, se a gente souber olhar com calma.
E quando parti, deixei muita coisa por ver. Mas levei tudo o que precisava: o peso da história, o sabor da terra, a certeza de que caminhar devagar é, muitas vezes, o jeito mais honesto de viajar.
E agora…
É hora de trocar de ilha.
Mykonos sem filtro: o que existe além da ilha das festas
Quando alguém fala “Mykonos”, o que você pensa?
Baladas que atravessam a madrugada, beach clubs com garrafas de champagne, areia branca lotada de corpos bronzeados, DJs internacionais, fotos perfeitas e… um certo ar de exclusividade.
Foi isso que eu também imaginava.
E, sendo honesta, quase deixei essa ilha de fora por causa disso.
Mas alguma coisa me dizia que, por trás dessa versão vendida da ilha, havia outra Mykonos — menos performática, mais silenciosa, mais real. E essa foi a que eu fui procurar.
E, pra minha sorte, encontrei.
Mykonos pode ser intensa, sim. Tem gente, tem música, tem luxo. Mas também tem vilarejos onde o tempo escorre devagar. Igrejas que parecem brotar da pedra. Ruas tão estreitas que a sombra de uma varanda vira refúgio. Um bairro onde o vento entra por trás das cortinas de linho. Um café onde você se senta e escuta grego sussurrado na mesa ao lado.
Foi nessa versão da ilha que eu mergulhei.
Não ignorei a fama — só escolhi navegar por outras marés.
Agora eu te levo comigo por caminhos menos óbvios.
Te conto como é se perder nas ruas de Chora com intenção, visitar vilarejos que quase não aparecem no mapa, e sentar na areia de praias onde o silêncio ainda compete com o som do mar.
Mykonos me mostrou que até os lugares mais badalados do mundo têm suas frestas.
E, às vezes, é ali que a viagem realmente acontece.
Chora: onde a ilha se organiza em labirinto (e em beleza)
Chora é o centro histórico de Mykonos, e é também onde a ilha mais se mostra — e mais se esconde. Parece contraditório, mas é isso. Porque ali está tudo que o mundo conhece: as ruelas brancas, as portas coloridas, as buganvílias saltando das paredes, os moinhos de vento na colina. Mas também está o outro lado, que só aparece pra quem caminha devagar.
A estrutura da cidade é toda pensada contra o vento e, historicamente, contra os invasores. Foi construída como um labirinto pra confundir piratas, e essa arquitetura continua ditando o ritmo de quem anda por lá. Ruas estreitas, passagens que viram esquina do nada, e caminhos que parecem ter sido desenhados pra fazer você se perder com calma.
Cheguei cedo em Chora, antes do calor pesar e dos turistas se espalharem. E foi a melhor escolha. As lojas ainda estavam fechadas, os cafés começando a arrumar as cadeiras, e as igrejas estavam todas ali, brancas, limpas, silenciosas. O que impressiona é a quantidade: são centenas só na cidade. Algumas cabem em uma única foto, outras ocupam quarteirões. A mais conhecida, Panagia Paraportiani, é quase um símbolo. Um conjunto de capelas unidas num formato torto e assimétrico que, curiosamente, virou ícone por isso mesmo.
A caminhada vai te levando naturalmente até a Pequena Veneza, o trecho onde as casas parecem crescer sobre o mar, sustentadas por varandas de madeira e história. Hoje, ali estão os restaurantes mais caros da cidade. E, pra ser justa, não comi em nenhum deles. Não por crítica, mas por escolha. Preferi sentar no fim da tarde num café lateral, com vista parecida, menos ruído e um café grego forte na mão.
Logo acima, os moinhos de vento te lembram que Mykonos nem sempre foi sobre glamour. Eles serviam pra moer grãos, movidos pelo vento do mar Egeu — e por séculos sustentaram boa parte da economia local. Hoje, parados, são cenário. Mas ainda impõem presença.
Uma coisa que me chamou atenção é como tudo em Chora acontece em camadas. Você pode simplesmente andar, tirar fotos, sentar num restaurante bonito e ir embora. Ou pode escolher observar o tempo das pessoas locais, entrar numa lojinha de cerâmica que não tem nem nome, comprar um ímã de geladeira que parece feito à mão de verdade. Depende do seu ritmo — e do que você quer levar da viagem.
E apesar de toda a fama da ilha, foi ali em Chora que eu senti a Grécia que eu imaginava encontrar. Não por ser autêntica no sentido turístico. Mas porque é um lugar que resiste — mesmo com tanta gente tentando transformá-lo num palco.
Chora pode ser cenário.
Mas se você chegar com o tempo certo, ela vira encontro.
Ano Mera: o pedaço mais grego de uma ilha internacional
Se Chora é onde Mykonos se apresenta ao mundo, Ano Mera é onde a ilha respira.
A vila fica no centro da ilha, longe do mar, longe da badalação, longe das selfies. E talvez por isso tenha me ganhado tão fácil.
Diferente de Chora, que é feita pra caminhar e se encantar a cada esquina, Ano Mera é feita pra viver. É uma vila que funciona no seu próprio tempo, com moradores que estão ali o ano inteiro, e não só na alta temporada. Não tem pretensão de impressionar — e justamente por isso, impressiona.
Cheguei lá num fim de manhã, de carro alugado. O caminho é curto (menos de 20 minutos saindo de Chora), e o contraste é imediato. Ruas mais largas, sem multidões, com o som real da vida acontecendo. Crianças saindo da escola, um senhor varrendo a calçada, conversas em grego no ritmo de quem não precisa encerrar logo.
No centro da vila está o Mosteiro de Panagia Tourliani, que é a principal referência do lugar. A construção é do século XVI e tem uma fachada que parece saída de outro tempo: branca, simples, com detalhes em mármore e uma torre que chama atenção sem precisar ser imponente. O pátio é silencioso, com fontes, vasos de cerâmica e sombras perfeitas pra uma pausa.
Entrei, olhei os ícones, o altar dourado, os candelabros pendendo do teto. E tudo ali era cuidado, respeitoso. Não turístico no sentido comercial — mas espiritual.
Ao redor do mosteiro, há tavernas familiares que ainda servem comida com gosto de casa. Sentei numa delas sem olhar o nome, pedi o que estava sendo preparado no dia: moussaká e uma salada com tomate local (doce, quase quente de tanto sol) e queijo feta firme, que esfarelava com a faca.
O garçom tinha mãos calejadas e me tratou com gentileza simples.
Sem vender nada, sem explicar demais. Era só comida, mesa, e tempo.
Ano Mera não tem mar, não tem glamour, não tem filtro. Mas tem uma coisa rara de se ver em Mykonos: rotina.
E essa rotina grega, fora do circuito turístico, vale tanto quanto qualquer pôr do sol.
Se você está com o tempo contado, talvez passe direto.
Mas se tiver um dia de sobra, te digo com segurança: Ano Mera é onde você vê Mykonos de verdade.
Delos: quando a mitologia grega deixa de ser lenda e vira paisagem
Se existe um lugar em Mykonos onde o tempo para — ou talvez volte —, esse lugar é Delos.
Delos fica a meia hora de barco de Mykonos. Mas parece que leva a gente pra milênios atrás. Dizem que foi onde nasceram Apolo e Ártemis — mas o que realmente impressiona é a cidade antiga esculpida em pedra, sol e história.
Peguei o barco cedo, saindo do porto antigo de Mykonos. A travessia é curta, mas dá tempo de perceber como o mar em volta é de um azul mais denso, quase sem interrupções. Delos aparece no horizonte como uma ilha de pedra. Sem vegetação densa, sem construções modernas, sem sombras. É só ruína, céu e sol. E talvez por isso mesmo seja tão impactante.
Chegar lá não é como visitar um museu a céu aberto. É mais como caminhar por uma cidade fantasma onde tudo tem eco.
As ruas ainda estão desenhadas no chão. Os mosaicos, em muitos pontos, continuam intactos. Há vestígios de casas, templos, praças, cisternas, mercados. E cada passo te lembra que ali, um dia, passaram milhares de pessoas com vidas inteiras — e histórias que ninguém mais conta.
O que me marcou de verdade foi o Terraço dos Leões: esculturas de mármore alinhadas, voltadas para o leste, como sentinelas. O original das peças está hoje no museu da ilha (vale a visita!), mas ver as réplicas no local onde estiveram por milênios tem uma força simbólica difícil de descrever. Parecem estar ali pra lembrar a quem chega que esse chão já foi sagrado.
Outro ponto que me pegou de surpresa foi a Casa dos Golfinhos — uma antiga residência com piso de mosaico representando dois golfinhos nadando em espiral. Simples, mas vivo. Porque a arte ali não era feita pra decorar: era feita pra permanecer.
A visita leva pelo menos 2 a 3 horas, e não tem infraestrutura turística. Levei chapéu, água, protetor solar e sapatos bons pra caminhar — e recomendo que você faça o mesmo. Não tem lanchonete, não tem sombra, não tem distração. E é justamente por isso que a gente escuta mais.
Delos não é parada obrigatória pra quem vai a Mykonos.
Mas pra mim, foi essencial.
Depois de dias vendo a Grécia das fotos, ali eu encontrei a Grécia das fundações — a que está por baixo, sustentando tudo.
Onde o som do mar ainda é mais alto que a música: as praias menos faladas de Mykonos
Quando a gente pensa em praias em Mykonos, o que vem primeiro são os nomes conhecidos: Paradise, Super Paradise, Psarou. E sim, elas existem, são bonitas e fazem jus à fama. Mas foi nos cantinhos mais silenciosos da ilha que encontrei a experiência que procurava.
Uma das primeiras que conheci foi Agios Sostis. O caminho até lá é simples, sem placas chamativas ou estacionamentos organizados. E talvez por isso mesmo seja tão boa. A praia não tem bares, nem cadeiras, nem serviço de praia — só areia grossa, mar transparente e gente com toalha no chão. Levei meu lanche e fiquei horas ali, escutando o vento e vendo o tempo passar sem pressa. Ninguém queria impressionar ninguém. Só estar.
Outra que me ganhou foi Fokos Beach. Fica mais afastada, o acesso é por estrada de terra e, até onde vi, nenhum ônibus chega lá. Mas vale cada curva. A enseada é protegida, com falésias baixas que fazem a água parecer ainda mais azul. Tem uma taverna simples ali perto, onde comi peixe grelhado com limão e um pão caseiro que parecia feito naquela manhã. Era tudo o que eu precisava sem saber que precisava.
Também gostei muito da Kapari Beach. Pequena, escondida, com vista direta pra ilha de Delos — o que, depois da visita à ilha, me deixou num estado quase contemplativo. Não tem estrutura, mas tem aquele tipo de energia boa de lugar que ninguém está tentando transformar em atração. É só mar, pedra, e o que você quiser viver ali.
Essas praias não aparecem nos folhetos. Mas elas aparecem quando você decide se afastar um pouco da trilha principal. E foi nelas que Mykonos deixou de ser a ilha do luxo — pra virar só uma ilha, com mar, vento, sal e possibilidade.
E pra completar esse circuito que mais parece uma trilha de tempo, fui até o Estádio Panatenaico — o único estádio do mundo feito inteiramente de mármore.
Ele foi palco dos primeiros Jogos Olímpicos modernos, em 1896, mas foi construído sobre uma arena da Grécia Antiga.
Andei até o centro da pista, sentei nas arquibancadas vazias, e vi Atenas em volta como se ela estivesse me ensinando que a história aqui não está só no passado.
Anafiotika: a ilha escondida no coração de Atenas
Se você piscar, talvez passe por Anafiotika sem perceber.
Ele é um bairro minúsculo, encravado na encosta norte da Acrópole, bem atrás do Museu de Arte Grega. E parece que foi colocado ali como um sussurro — quase um segredo entre as pedras.
Foi construído no século XIX por artesãos da ilha de Anafi, chamados a Atenas pra reformar o palácio do rei Otto. Eles vieram com saudade de casa, e o que fizeram?
Começaram a erguer, no alto da colina, casas brancas com janelas azuis, escadas de pedra, hortas improvisadas — tudo como nas Cíclades.
Só que fizeram sem autorização.
Na época, o governo fechava os olhos — depois tentou demolir tudo. Mas o bairro resistiu.
E ainda está ali: um pedaço das ilhas, no meio da capital.
Hoje, Anafiotika tem menos de 50 casas habitadas, e cada uma parece carregar a memória de várias gerações.
Não tem cafés. Não tem lojas. Não tem placas turísticas.
Só silêncio, cheiro de manjericão, e gatos que se espreguiçam nas soleiras.
Andar por ali foi uma das partes mais bonitas da minha passagem por Atenas.
Porque o bairro não entrega “grandeza”.
Ele entrega pausa, intimidade e uma estética que não se explica — se sente.
Do alto de uma viela, com o pôr do sol batendo de lado, dá pra ver a cidade inteira embaixo.
E naquele contraste entre caos urbano e calma cicládica, Anafiotika parece te lembrar que dá pra resistir sendo pequeno.
Comer bem sem fazer esforço (e entender a cidade sem entender tudo)
A primeira coisa que você precisa saber sobre comer em Atenas: não vá só pelos nomes famosos.
A cidade te entrega sabor em cada esquina — especialmente nas mais bagunçadas.
Um dos lugares mais marcantes foi uma taverna sem nome, onde comi peixe fresco com limão e sal, uma porção enorme de fava (purê de grão-de-bico amarelo) e o pão mais crocante da viagem.
Tudo simples. Tudo bom.
O tipo de refeição que não aparece no Instagram, mas que fica na memória.
Em outro dia, experimentei galaktoboureko — um doce grego com creme e massa folhada — comprado numa confeitaria de bairro.
Comi sentada num banco de praça, ouvindo música grega sair da janela de alguém.
Nem parecia cena de viagem. Parecia vida.
Fui ao mercado central de Varvakios, vi barracas de azeitonas que mais pareciam joalherias, e entrei num lugar que vendia queijo feta feito ali mesmo.
Sai com um pedaço embrulhado em papel grosso e a sensação de que isso sim era souvenir.
E entre uma caminhada e outra, fui descobrindo que Atenas é feita de pausas.
Uma sombra. Um café grego forte. Uma conversa com quem nem tenta falar inglês, mas te entende do mesmo jeito.
E se der tempo (ou coragem): vá além da superfície
Se tiver um respiro entre os clássicos, Atenas guarda mais camadas — daquelas que o turismo tradicional ainda não levou embora.
Começa pelo Museu de Arte Cicládica, que parece pequeno mas é uma joia.
Lá dentro, vi esculturas feitas há mais de 4 mil anos — figuras femininas em mármore branco, com formas mínimas, quase modernas.
Elas eram usadas como oferendas, amuletos, talvez deuses. Ninguém sabe ao certo.
Mas ali, no silêncio do museu, dá pra sentir que aquelas peças têm alma.
Se quiser algo mais vibrante, o bairro de Psiri pode surpreender.
Ele já foi decadente, industrial, quase esquecido. Mas hoje respira criatividade: tem arte de rua nas fachadas, brechós pequenos, bares escondidos em galpões e lojas que parecem montadas por artistas.
Ali, tudo tem cara de improviso, mas nada é por acaso.
E se a viagem coincidir, veja se há algum espetáculo no Odeão de Herodes Ático — o teatro romano na base da Acrópole.
Ainda hoje, ele recebe concertos, peças e óperas.
E imagina ouvir uma voz ecoando em colunas do século I?
É o tipo de experiência que nem precisa de legenda — porque você sente no corpo.
Ah — e tem também o bairro de Koukaki, bem próximo à Acrópole.
Ele ainda não virou modinha, mas já tem cafés com alma, lojinhas de cerâmica, pequenas galerias.
Se Anafiotika é o passado quieto, Koukaki é o presente leve.
Santorini além da foto: o que existe por trás do postal
Santorini entrou no meu roteiro quase como quem obedece a uma ideia coletiva.
Era o cartão-postal da Grécia. A ilha das fotos perfeitas, dos pores do sol aplaudidos, das escadas brancas com cúpulas azuis que viraram desejo global.
E eu fui — claro que fui.
Mas se tem uma coisa que essa viagem me ensinou é que os lugares mais fotografados também podem ser os mais mal compreendidos.
Porque Santorini é linda, sim. Mas não só.
Ela é também quente, desafiadora, seca, cheia de subidas, cheia de gente, cheia de camadas.
E talvez por isso tenha me marcado tanto.
Eu cheguei ali com o olho treinado pra beleza. Mas o que me prendeu foi a textura.
A textura das pedras vulcânicas sob os pés.
Do vento salgado na pele quando você vira uma viela e dá de cara com o mar lá embaixo.
Do silêncio que aparece nos lugares onde os turistas não param.
Porque tem um detalhe: Santorini não é plana. Nem no relevo, nem na experiência.
É uma ilha feita de extremos. De contrastes. De zonas que se reinventam a cada curva.
E, pra mim, o segredo foi parar de correr entre os pontos turísticos e começar a explorar como quem procura algo que ainda não sabe o nome.
Foi quando entendi que, por trás da fotografia vendável, existe uma ilha que já sobreviveu a uma erupção que quase a apagou do mapa.
E que hoje convida quem chega a pisar mais leve — e olhar mais fundo.
Nesse bloco, vou te mostrar como foi viver Santorini com tempo, com presença e com escolhas que foram além do óbvio.
Te conto da trilha que fez meu coração desacelerar entre Fira e Oia.
Das ruínas enterradas que me levaram 3.500 anos pra trás.
Dos vilarejos onde ninguém sorri pra selfie, mas onde fui recebida com pão fresco e conversa sincera.
Aqui não tem check-list.
Tem memória, tem mapa afetivo e tem descoberta.
Se é isso que você procura, vem comigo.
De Fira a Oia a pé: quando caminhar costura os pedaços da ilha
Essa trilha entre Fira e Oia é daquelas experiências que só fazem sentido depois que você vive. Quando ouvia falar, parecia exagero — 10 km, subida, descida, sol. Só que quando você entende o que está no caminho, o esforço vira uma forma de absorver a ilha.
Começa em Fira, que é a capital e também o primeiro contato com a Santorini mais movimentada. Cheia de lojas, agências, restaurantes com varandas panorâmicas. Tudo ali parece pronto pra turista. E é. Mas, mesmo com o excesso, tem algo de encantador. O som dos sinos das igrejas, a vista das casinhas encaixadas na encosta, e aquele azul absurdo que separa o céu do mar.
Quando comecei a andar, percebi como as paisagens vão mudando devagar. O agito de Fira dá lugar a Firostefani, que é quase uma extensão, mas já com outro clima. Menos comércio, mais vizinhança. Vi portas abertas, roupas secando ao sol, moradores sentados na calçada. Ali, a vista é uma das mais impressionantes — e não tem multidão disputando lugar pra foto.
Logo depois, você chega em Imerovigli, que foi um dos meus lugares preferidos. Mais alto, mais espaçado, mais silencioso. É o tipo de lugar que parece desenhado por alguém que ama observar. Os hotéis ali têm menos ostentação, mais elegância discreta. Tem uma igrejinha no caminho, daquelas com a cúpula azul e um banco em frente — sentei ali sem pressa, porque dava pra ver quase a ilha inteira.
Nesse ponto do caminho, já faz calor. O chão alterna entre pedra e terra batida. A inclinação cansa, mas não pesa. O vento compensa. E em vários momentos, você se vê sozinha. É curioso como a trilha é famosa, mas não é lotada. Talvez porque as pessoas escolhem ir de carro, ou porque acham que vai ser puxado demais. Mas foi uma das melhores decisões que tomei nessa viagem.
Pelo caminho, cruzo por um casal que parou pra abrir uma fruta, uma mulher sentada num muro com um lenço na cabeça e um sorriso bom. Um cachorro atravessa a trilha e some no mato. Tudo é simples, mas tudo marca.
E quando Oia começa a aparecer no horizonte, você já sente que valeu.
Chegar em Oia a pé é outra coisa. Não é como descer do carro e procurar o mirante. Você chega respirando a ilha, sabendo a distância real entre os lugares. Oia é linda. É mais arrumada, mais “cenário”, mais tudo. Mas também mais cheia, mais performática. Só que, depois da trilha, ela não te engole. Você chega inteira. E percebe que o melhor talvez não seja o ponto de chegada — mas o caminho até ele.
Fiz essa trilha sem guia, só com um mapa offline no celular (que mal usei), uma garrafinha d’água e um ritmo tranquilo. Nada de preparo físico de atleta. Só vontade de ver a ilha se transformando diante dos olhos, sem janela de carro, sem pressa.
E foi assim que eu conheci de verdade essas quatro cidades — conectadas pelo chão e pela sensação de que, às vezes, caminhar é o jeito mais sincero de viajar.
Akrotiri e o tempo soterrado
Se Santorini parece cenário de filme quando você olha pra cima, Akrotiri é quando você decide olhar pra baixo. E descobrir que essa ilha, hoje disputada por turistas e fotógrafos, já foi — literalmente — coberta por cinzas.
Eu não sabia muito antes de ir. Tinha lido algo sobre “a Pompéia da Grécia”, mas confesso que fui mais pela curiosidade do que pela certeza.
E ainda bem.
Akrotiri é um sítio arqueológico preservado com uma precisão impressionante. A cidade foi soterrada por uma erupção vulcânica catastrófica por volta de 1600 a.C., e o que está lá agora não são só pedras — são vestígios de uma civilização que sabia construir com elegância, que decorava as paredes com afrescos coloridos, que organizava ruas, casas de dois andares e sistemas de drenagem antes de muita parte do mundo imaginar o que era esgoto.
Quando entrei, senti o ar mudar. O espaço é coberto, quase todo suspenso por passarelas, e o silêncio é natural — não por regras, mas por respeito mesmo. É estranho pensar que aquela erupção, que destruiu tudo, foi também o que permitiu que tudo isso chegasse até nós tão bem guardado.
O que mais me tocou não foi só ver os objetos ou a arquitetura. Foi imaginar as vidas interrompidas ali. Os potes com restos de alimento, os cômodos preservados, os espaços de convivência. É como se a cidade ainda respirasse por baixo das cinzas.
Uma curiosidade: nenhum corpo humano foi encontrado ali até hoje. Diferente de Pompéia, onde as pessoas foram surpreendidas pela lava, em Akrotiri tudo indica que os moradores conseguiram fugir a tempo. Isso, por si só, já muda a energia do lugar.
Não é um cenário de tragédia. É uma cápsula de civilização.
Fiz a visita sem guia, mas foi uma escolha consciente — queria caminhar no meu ritmo. Depois, li mais, reli algumas placas, fiz conexões com outras coisas que tinha visto na ilha.
E saí dali com outra visão sobre Santorini. Uma mais antiga, mais profunda.
É como se eu tivesse tirado uma camada da ilha e visto seu passado pulsando ainda ali, sob os pés.
Akrotiri fica na parte sul da ilha, perto da famosa Praia Vermelha. E mesmo que não esteja nos roteiros de quem busca só foto bonita, te digo com toda certeza: vale atravessar a ilha por isso.
Porque não é todo dia que você entra numa cidade de 3.500 anos e sai sentindo que ela ainda tem algo a dizer.
As praias que não parecem reais (e talvez não sejam)
Antes de chegar a Santorini, eu achava que praia era praia — com areia, água clara e guarda-sol. Só que aqui, o mar encontra pedra vulcânica, e a areia nem sempre é areia. Às vezes ela é preta, vermelha, quase roxa. Às vezes ela machuca um pouco o pé. Às vezes você não sabe se mergulha ou só observa.
Mas o que todas têm em comum é que não são óbvias.
A primeira que visitei foi a Red Beach, que fica bem perto do sítio de Akrotiri. Eu já tinha visto fotos, claro — falésias vermelhas, água azul escura, um contraste de tirar o fôlego. Mas ver ao vivo é outra história.
O caminho até ela é meio acidentado, você caminha por um terreno de terra batida e pedras soltas, contornando a encosta. É um trajeto curto, mas que exige atenção. Cheguei lá no fim da manhã e o mar estava espelhado.
A praia é estreita, e quando o sol bate nas pedras, parece que tudo ali acende.
Mas vou ser sincera: é linda de olhar, de fotografar… mas não foi onde fiquei muito tempo. Tinha bastante gente, o espaço era pequeno, e o calor refletido nas rochas tornava tudo mais intenso.
Valia pelo visual, sem dúvida — mas não foi minha praia de sentar e passar o dia.
Depois fui conhecer a White Beach, que só se acessa de barco. Peguei um desses barquinhos que saem de Red Beach mesmo e fui. E olha… é um refúgio.
Menor, mais reservada, cercada por falésias claras que fazem contraste com o mar e criam um visual meio lunar. Aqui, a areia é grossa, cheia de pedrinhas brancas e cinzas, e a água é absurdamente transparente.
Não tem estrutura, não tem música, não tem vendedor. E talvez por isso tenha sido um dos lugares onde consegui, de fato, relaxar. Levei água, fruta e um livro — e fiquei.
Era silêncio, vento e mar. Só isso.
Mais pra frente na viagem, fui até o lado oposto da ilha, onde ficam Perissa e Kamari — as praias de areia preta. São mais planas, mais amplas, mais organizadas.
Em Perissa, encontrei espreguiçadeiras, restaurantes à beira-mar, gente local e turistas convivendo sem tensão. A areia preta esquenta muito sob o sol, mas o mar compensa. Raso, calmo, gostoso de entrar.
Kamari é mais movimentada, mais familiar. Lojas, cafés, bares com música leve ao entardecer.
Entre as duas, preferi Perissa. Mais solta, menos editada.
No fim, percebi que as praias de Santorini são tão diferentes entre si quanto os vilarejos da ilha. E que não tem “a melhor”. Tem a que combina com o que você precisa naquele dia.
Red Beach pra se impressionar.
White Beach pra se esconder.
Perissa pra pertencer.
E se tivesse mais um dia, teria voltado pra White. Só pra ficar mais uma tarde deitada na pedra, olhando o mar que não parece real, mas que — de algum jeito — virou memória.
Vinhos que contam histórias (e um doce que ficou na memória)
Eu já sabia que a Grécia tinha vinhos bons, mas Santorini foi onde aprendi o que significa beber um vinho que carrega a paisagem na garrafa.
A uva mais conhecida da ilha é a Assyrtiko, e ela cresce no meio das pedras vulcânicas, em vinhedos baixos, quase rasteiros, moldados como ninhos circulares no chão. Essa técnica, chamada de kouloura, é típica daqui — e não é estética, é sobrevivência: ela protege a planta dos ventos fortes e do sol seco da ilha.
O que nasce disso é um branco seco, mineral, às vezes até salino, que parece ter sido filtrado pelo calor da pedra.
A vinícola que visitei ficava no alto, entre Fira e Pyrgos, com vista pro mar e cheiro de lavanda seca no ar.
Fui no fim da tarde, sem pressa, e o lugar parecia ter parado no tempo. Me deram uma taça de Assyrtiko envelhecido em barril e, de onde eu estava sentada, dava pra ver o sol se esgueirando entre as parreiras curvadas. Era vinho com corpo — e com silêncio.
Conversei com o dono, que me contou que a videira da ilha quase não recebe chuva. Que tudo ali é feito devagar, do jeito que sempre foi. E que aquela safra, em especial, tinha vindo com menos volume, mas mais intensidade.
Não era papo de sommelier — era fala de quem pisa no chão antes de colher.
Na degustação, me ofereceram um doce que eu não conhecia: melitinia, uma tortinha feita com queijo fresco, canela e açúcar. Simples, morna, com cheiro de casa. Dizem que é mais comum na Páscoa, mas ali, naquele fim de tarde, parecia feita pra mim.
Não fui atrás do restaurante da moda, nem da sobremesa mais postada no Instagram. Fui atrás de comida que me parasse por dentro.
E encontrei.
Em Santorini, comer bem não é só possível. É quase inevitável.
Do peixe fresco servido com azeite grosso em tavernas à beira-mar, até os tomates doces que crescem quase sem água, tudo parece ter um sabor mais concentrado — talvez pelo solo, talvez pela história, talvez pela forma como o tempo se comporta na ilha.
O que ficou pra mim, além do gosto? A sensação de que aqui, o que se come e o que se bebe não foram inventados pra agradar turista.
Foram apenas mantidos.
E quando você chega com respeito, com curiosidade, com vontade de escutar — eles se revelam.
Pyrgos e os vilarejos onde a ilha respira devagar
Santorini é famosa por seus cenários que parecem cartões-postais, mas o que mais me encantou foram os lugares que não tentam posar pra foto. Pyrgos é um deles. Um vilarejo no alto da ilha, longe da badalação, onde a vida ainda segue em ritmo grego — e não em ritmo de turista.
Cheguei lá no meio da manhã, sem pressa e sem mapa. As ruas são estreitas, de pedra clara, e parecem ter sido desenhadas por alguém que gosta de curvas e silêncio. Aqui, ninguém disputa selfie. As casas são brancas, sim, mas não têm o acabamento perfeito de Oia. E é isso que encanta.
Em vez de vitrines de grife, tem padaria com cheiro de pão fresco. Em vez de fila pro pôr do sol, tem um senhor regando as flores da varanda, como se o tempo ainda obedecesse a uma lógica mais antiga.
No topo do vilarejo, tem um castelo veneziano em ruínas e uma vista que, honestamente, rivaliza com qualquer outra da ilha — mas com uma vantagem: quase ninguém ali. Subi até o alto e sentei num banco de pedra. Era o tipo de beleza que não grita. Que não se exibe. Só se mostra pra quem chega devagar.
Outro vilarejo que me atravessou foi Finikia, bem pertinho de Oia, mas que parece viver numa bolha de tempo. Passei por ele no fim do dia, sem planejar. Foi uma caminhada curta que virou encontro. Casas com arcos arredondados, portas coloridas, gatos dormindo nos telhados. Tinha cheiro de comida no ar e música que vinha de alguma casa escondida.
Aqui, Santorini não quer te impressionar. Só te acolhe.
Esses lugares não entram no “roteiro de 3 dias”.
Mas talvez sejam o que mais fica na memória.
Santorini: camadas que não cabem numa foto
Eu fui até Santorini com a expectativa de me encantar — e me encantei. Mas não pelos motivos óbvios.
Não foi só o pôr do sol em Oia, nem a vista dos hotéis pendurados na encosta. Foi o chão quente sob os pés. Foi o cheiro de pão saindo de uma casa em Pyrgos. Foi o silêncio de Akrotiri, que ainda sussurra a história de um povo inteiro.
Foi o vinho mineral. A praia escondida. A trilha que me deixou sozinha no meio da ilha — e feliz com isso.
Santorini me mostrou que até os lugares mais conhecidos podem ser surpresa, se a gente souber olhar com calma.
E quando parti, deixei muita coisa por ver. Mas levei tudo o que precisava: o peso da história, o sabor da terra, a certeza de que caminhar devagar é, muitas vezes, o jeito mais honesto de viajar.
E agora…
É hora de trocar de ilha.
Mykonos sem filtro: o que existe além da ilha das festas
Quando alguém fala “Mykonos”, o que você pensa?
Baladas que atravessam a madrugada, beach clubs com garrafas de champagne, areia branca lotada de corpos bronzeados, DJs internacionais, fotos perfeitas e… um certo ar de exclusividade.
Foi isso que eu também imaginava.
E, sendo honesta, quase deixei essa ilha de fora por causa disso.
Mas alguma coisa me dizia que, por trás dessa versão vendida da ilha, havia outra Mykonos — menos performática, mais silenciosa, mais real. E essa foi a que eu fui procurar.
E, pra minha sorte, encontrei.
Mykonos pode ser intensa, sim. Tem gente, tem música, tem luxo. Mas também tem vilarejos onde o tempo escorre devagar. Igrejas que parecem brotar da pedra. Ruas tão estreitas que a sombra de uma varanda vira refúgio. Um bairro onde o vento entra por trás das cortinas de linho. Um café onde você se senta e escuta grego sussurrado na mesa ao lado.
Foi nessa versão da ilha que eu mergulhei.
Não ignorei a fama — só escolhi navegar por outras marés.
Agora eu te levo comigo por caminhos menos óbvios.
Te conto como é se perder nas ruas de Chora com intenção, visitar vilarejos que quase não aparecem no mapa, e sentar na areia de praias onde o silêncio ainda compete com o som do mar.
Mykonos me mostrou que até os lugares mais badalados do mundo têm suas frestas.
E, às vezes, é ali que a viagem realmente acontece.
Chora: onde a ilha se organiza em labirinto (e em beleza)
Chora é o centro histórico de Mykonos, e é também onde a ilha mais se mostra — e mais se esconde. Parece contraditório, mas é isso. Porque ali está tudo que o mundo conhece: as ruelas brancas, as portas coloridas, as buganvílias saltando das paredes, os moinhos de vento na colina. Mas também está o outro lado, que só aparece pra quem caminha devagar.
A estrutura da cidade é toda pensada contra o vento e, historicamente, contra os invasores. Foi construída como um labirinto pra confundir piratas, e essa arquitetura continua ditando o ritmo de quem anda por lá. Ruas estreitas, passagens que viram esquina do nada, e caminhos que parecem ter sido desenhados pra fazer você se perder com calma.
Cheguei cedo em Chora, antes do calor pesar e dos turistas se espalharem. E foi a melhor escolha. As lojas ainda estavam fechadas, os cafés começando a arrumar as cadeiras, e as igrejas estavam todas ali, brancas, limpas, silenciosas. O que impressiona é a quantidade: são centenas só na cidade. Algumas cabem em uma única foto, outras ocupam quarteirões. A mais conhecida, Panagia Paraportiani, é quase um símbolo. Um conjunto de capelas unidas num formato torto e assimétrico que, curiosamente, virou ícone por isso mesmo.
A caminhada vai te levando naturalmente até a Pequena Veneza, o trecho onde as casas parecem crescer sobre o mar, sustentadas por varandas de madeira e história. Hoje, ali estão os restaurantes mais caros da cidade. E, pra ser justa, não comi em nenhum deles. Não por crítica, mas por escolha. Preferi sentar no fim da tarde num café lateral, com vista parecida, menos ruído e um café grego forte na mão.
Logo acima, os moinhos de vento te lembram que Mykonos nem sempre foi sobre glamour. Eles serviam pra moer grãos, movidos pelo vento do mar Egeu — e por séculos sustentaram boa parte da economia local. Hoje, parados, são cenário. Mas ainda impõem presença.
Uma coisa que me chamou atenção é como tudo em Chora acontece em camadas. Você pode simplesmente andar, tirar fotos, sentar num restaurante bonito e ir embora. Ou pode escolher observar o tempo das pessoas locais, entrar numa lojinha de cerâmica que não tem nem nome, comprar um ímã de geladeira que parece feito à mão de verdade. Depende do seu ritmo — e do que você quer levar da viagem.
E apesar de toda a fama da ilha, foi ali em Chora que eu senti a Grécia que eu imaginava encontrar. Não por ser autêntica no sentido turístico. Mas porque é um lugar que resiste — mesmo com tanta gente tentando transformá-lo num palco.
Chora pode ser cenário.
Mas se você chegar com o tempo certo, ela vira encontro.
Ano Mera: o pedaço mais grego de uma ilha internacional
Se Chora é onde Mykonos se apresenta ao mundo, Ano Mera é onde a ilha respira.
A vila fica no centro da ilha, longe do mar, longe da badalação, longe das selfies. E talvez por isso tenha me ganhado tão fácil.
Diferente de Chora, que é feita pra caminhar e se encantar a cada esquina, Ano Mera é feita pra viver. É uma vila que funciona no seu próprio tempo, com moradores que estão ali o ano inteiro, e não só na alta temporada. Não tem pretensão de impressionar — e justamente por isso, impressiona.
Cheguei lá num fim de manhã, de carro alugado. O caminho é curto (menos de 20 minutos saindo de Chora), e o contraste é imediato. Ruas mais largas, sem multidões, com o som real da vida acontecendo. Crianças saindo da escola, um senhor varrendo a calçada, conversas em grego no ritmo de quem não precisa encerrar logo.
No centro da vila está o Mosteiro de Panagia Tourliani, que é a principal referência do lugar. A construção é do século XVI e tem uma fachada que parece saída de outro tempo: branca, simples, com detalhes em mármore e uma torre que chama atenção sem precisar ser imponente. O pátio é silencioso, com fontes, vasos de cerâmica e sombras perfeitas pra uma pausa.
Entrei, olhei os ícones, o altar dourado, os candelabros pendendo do teto. E tudo ali era cuidado, respeitoso. Não turístico no sentido comercial — mas espiritual.
Ao redor do mosteiro, há tavernas familiares que ainda servem comida com gosto de casa. Sentei numa delas sem olhar o nome, pedi o que estava sendo preparado no dia: moussaká e uma salada com tomate local (doce, quase quente de tanto sol) e queijo feta firme, que esfarelava com a faca.
O garçom tinha mãos calejadas e me tratou com gentileza simples.
Sem vender nada, sem explicar demais. Era só comida, mesa, e tempo.
Ano Mera não tem mar, não tem glamour, não tem filtro. Mas tem uma coisa rara de se ver em Mykonos: rotina.
E essa rotina grega, fora do circuito turístico, vale tanto quanto qualquer pôr do sol.
Se você está com o tempo contado, talvez passe direto.
Mas se tiver um dia de sobra, te digo com segurança: Ano Mera é onde você vê Mykonos de verdade.
Delos: quando a mitologia grega deixa de ser lenda e vira paisagem
Se existe um lugar em Mykonos onde o tempo para — ou talvez volte —, esse lugar é Delos.
A pequena ilha desabitada fica a menos de meia hora de barco de Mykonos, e é considerada uma das escavações arqueológicas mais importantes da Grécia. Dizem que foi ali que nasceram Apolo e Ártemis, filhos de Zeus com a mortal Leto. Mas mitologia à parte, o que te espera lá é um mergulho real numa cidade que já foi centro comercial, cultural e espiritual do mundo antigo.
Peguei o barco cedo, saindo do porto antigo de Mykonos. A travessia é curta, mas dá tempo de perceber como o mar em volta é de um azul mais denso, quase sem interrupções. Delos aparece no horizonte como uma ilha de pedra. Sem vegetação densa, sem construções modernas, sem sombras. É só ruína, céu e sol. E talvez por isso mesmo seja tão impactante.
Chegar lá não é como visitar um museu a céu aberto. É mais como caminhar por uma cidade fantasma onde tudo tem eco.
As ruas ainda estão desenhadas no chão. Os mosaicos, em muitos pontos, continuam intactos. Há vestígios de casas, templos, praças, cisternas, mercados. E cada passo te lembra que ali, um dia, passaram milhares de pessoas com vidas inteiras — e histórias que ninguém mais conta.
O que me marcou de verdade foi o Terraço dos Leões: esculturas de mármore alinhadas, voltadas para o leste, como sentinelas. O original das peças está hoje no museu da ilha (vale a visita!), mas ver as réplicas no local onde estiveram por milênios tem uma força simbólica difícil de descrever. Parecem estar ali pra lembrar a quem chega que esse chão já foi sagrado.
Outro ponto que me pegou de surpresa foi a Casa dos Golfinhos — uma antiga residência com piso de mosaico representando dois golfinhos nadando em espiral. Simples, mas vivo. Porque a arte ali não era feita pra decorar: era feita pra permanecer.
A visita leva pelo menos 2 a 3 horas, e não tem infraestrutura turística. Levei chapéu, água, protetor solar e sapatos bons pra caminhar — e recomendo que você faça o mesmo. Não tem lanchonete, não tem sombra, não tem distração. E é justamente por isso que a gente escuta mais.
Delos não é parada obrigatória pra quem vai a Mykonos.
Mas pra mim, foi essencial.
Depois de dias vendo a Grécia das fotos, ali eu encontrei a Grécia das fundações — a que está por baixo, sustentando tudo.
Onde o som do mar ainda é mais alto que a música: as praias menos faladas de Mykonos
Quando a gente pensa em praias em Mykonos, o que vem primeiro são os nomes conhecidos: Paradise, Super Paradise, Psarou. E sim, elas existem, são bonitas e fazem jus à fama. Mas foi nos cantinhos mais silenciosos da ilha que encontrei a experiência que procurava.
Uma das primeiras que conheci foi Agios Sostis. O caminho até lá é simples, sem placas chamativas ou estacionamentos organizados. E talvez por isso mesmo seja tão boa. A praia não tem bares, nem cadeiras, nem serviço de praia — só areia grossa, mar transparente e gente com toalha no chão. Levei meu lanche e fiquei horas ali, escutando o vento e vendo o tempo passar sem pressa. Ninguém queria impressionar ninguém. Só estar.
Outra que me ganhou foi Fokos Beach. Fica mais afastada, o acesso é por estrada de terra e, até onde vi, nenhum ônibus chega lá. Mas vale cada curva. A enseada é protegida, com falésias baixas que fazem a água parecer ainda mais azul. Tem uma taverna simples ali perto, onde comi peixe grelhado com limão e um pão caseiro que parecia feito naquela manhã. Era tudo o que eu precisava sem saber que precisava.
Também gostei muito da Kapari Beach. Pequena, escondida, com vista direta pra ilha de Delos — o que, depois da visita à ilha, me deixou num estado quase contemplativo. Não tem estrutura, mas tem aquele tipo de energia boa de lugar que ninguém está tentando transformar em atração. É só mar, pedra, e o que você quiser viver ali.
Essas praias não aparecem nos folhetos. Mas elas aparecem quando você decide se afastar um pouco da trilha principal. E foi nelas que Mykonos deixou de ser a ilha do luxo — pra virar só uma ilha, com mar, vento, sal e possibilidade.
Ali, onde ninguém esperava nada, eu encontrei a versão mais leve da ilha. E talvez a mais verdadeira.
Folegandros: o que só um lugar fora da rota pode te dar
Escolher Folegandros foi como ouvir um sussurro no meio de tanto barulho.
Enquanto todo mundo falava de Milos, Naxos, Ios — nomes que pulam dos roteiros mais recomendados —, um amigo me disse: “Vai pra Folegandros. Lá, a Grécia ainda sussurra em vez de gritar.”
E foi o suficiente.
Peguei um ferry de Santorini num fim de manhã azul, com o vento leve no rosto e a expectativa de quem não sabia direito o que ia encontrar.
A viagem durou pouco mais de uma hora — e parecia um deslocamento no tempo, não só no espaço.
Quando cheguei ao pequeno porto de Karavostasis, tudo já era outro: menos carro, menos gente, menos pressa.
Mas mais céu, mais pedra, mais verdade.
Folegandros é uma ilha pequena. Poucos vilarejos, poucas praias, pouca estrutura.
Mas talvez por isso, ela entregue tanto.
Foi ali que encontrei o que nenhuma outra ilha me deu com tanta força: o silêncio como experiência — e não como ausência.
Por que sair do óbvio muda tudo
É fácil ir onde todo mundo vai. Mas sair do óbvio é um risco — e também um presente.
Folegandros não entrega atrações de impacto. Não tem cartões-postais prontos.
Mas tem chão. Tem história nas pedras. Tem cheiro de manjericão nas esquinas da Chora, a vila principal da ilha.
E tem um pôr do sol que eu não esperava ver.
A Chora de Folegandros talvez seja uma das mais bonitas das Cíclades — e não por causa da arquitetura (embora ela seja linda), mas pela composição do todo.
São ruelas estreitas, passagens brancas cortadas por buganvílias, cafés pequeninos com cadeiras coloridas e gatos que parecem donos de tudo.
A cada esquina, uma igreja minúscula, um pátio com gente falando baixo, uma varanda com cortina leve.
É um lugar que te recebe com um “senta” em vez de um “compra”.
Ali, caminhei sem mapa. Tomei café com pão fresco numa taverna sem nome.
Vi crianças brincando na praça central enquanto os adultos tomavam vinho branco em copo simples.
E pensei: talvez a Grécia seja isso. Quando a gente para de procurar o “must see”, ela mostra o que realmente é.
O momento mais bonito da viagem
Subir até a igreja de Panagia, no fim da tarde, foi a decisão que virou memória.
A igreja fica no alto de uma colina, e o caminho até ela é uma trilha em zigue-zague de pedra, que parece desenhada por um arquiteto do silêncio.
Fui subindo devagar, sentindo o vento subir junto. O céu começou a mudar de cor. Lá embaixo, a Chora ia ficando pequenininha, como uma maquete viva.
E quando cheguei ao topo… não tinha multidão. Não tinha celular levantado. Só gente quieta, olhando pro mesmo lugar: o horizonte.
O mar se alargava como um tapete. O sol, enorme, descia sem pressa. E o vento levava embora qualquer pensamento que não fosse o agora.
Ali, pela primeira vez em dias, eu parei de pensar na próxima parada.
E só respirei.
Ritmo diferente, viagem diferente
Folegandros não quer te entreter.
Ela quer que você desacelere.
Não tem beach club. Não tem fila pra foto.
Tem praias escondidas, como Katergo ou Agali, onde você chega de trilha ou de barco — e onde o som mais alto é o das pedras se movendo com as ondas.
Tem tavernas onde o dono cozinha e serve.
Tem gente que olha no olho.
Tem comida simples, com ingredientes locais, sem invenção — mas com gosto de verdade.
Depois de dias entre as ilhas mais famosas, estar ali foi quase um detox.
De ruído. De vaidade. De obrigação de “aproveitar tudo”.
Folegandros não tem pressa. E se você aceitar o convite, ela muda o tempo da sua viagem.
No fim dessa viagem, o que ficou não foram apenas os destinos, mas o jeito como cada lugar me atravessou.
Quando o roteiro vira memória
A Grécia não foi uma lista de pontos turísticos — foi uma experiência construída com escolhas conscientes, pausas intencionais e uma vontade real de estar presente. E isso muda tudo. Quando a gente viaja assim, não é só o lugar que nos marca. A gente também transforma o jeito como se move pelo mundo.
A ideia desse roteiro não é te dar um caminho pronto. É te mostrar que dá pra montar o seu com mais verdade, respeitando seu ritmo, sua curiosidade e o que realmente faz sentido pra você.
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