De trem pela Europa: 3 países, 15 dias, muitos cafés e memórias

Uma viagem entre amigas, um roteiro com alma 

Essa viagem começou sem alarde. Não foi uma daquelas decisões feitas com antecedência, checklists eternos ou um cronograma de Excel aberto por meses. Foi mais como uma vontade que apareceu devagar, daquelas que a gente sente antes de ter palavras. E, dessa vez, não quis viver sozinha.

Viajar entre amigas tem um sabor diferente. Mesmo pra quem está acostumada a viajar sozinha, existe uma beleza em dividir silêncios, mapas, cafés da manhã e paisagens. É uma companhia que não pesa. Pelo contrário, caminha no mesmo ritmo — mesmo quando esse ritmo muda. Foi isso que a gente buscou: presença, conexão e um roteiro que fizesse sentido pro que a gente estava vivendo naquele momento da vida.

Foram quinze dias pela Europa, cruzando fronteiras e atravessando fases. Uma viagem de trem, com intenção e afeto. Sem pressa de chegar. Sem obrigação de ver tudo. Com escolhas que tinham mais a ver com o sentir do que com o seguir o esperado.

Se você chegou até aqui querendo saber como montar um roteiro entre Suíça, Alemanha e França, com conforto, beleza, leveza e experiências reais, fica. Esse artigo não é um guia técnico. Mas talvez seja um mapa possível — de viagem, de presença e de amizade.

Por que esse caminho — e por que de trem? 

A escolha do trem veio antes dos destinos. Era menos sobre praticidade e mais sobre o jeito que queríamos viver esse tempo juntas. O trem dava o ritmo certo. Não exigia filas de aeroporto, nem malas correndo em calçadas. Dava tempo de ver o mundo passando pela janela, de conversar com calma, de descansar entre um capítulo e outro da viagem. A gente não queria só chegar. Queria estar no caminho.

A partir daí, montar o roteiro foi quase natural. A Suíça parecia o começo ideal: Zurique nos chamou com a sua ordem silenciosa, a beleza limpa, o jeito de cidade que funciona. Era o ponto de partida perfeito pra deixar o corpo chegar, o fôlego se ajustar.

Depois, a Alemanha. Munique surgiu como contraponto. Uma cidade viva, que tem história, mas também cerveja na calçada, arte moderna e parque que vira quintal. Era o lugar certo pra se soltar um pouco mais, rir mais alto, sair do eixo sem perder o centro.

Na sequência, Estrasburgo. Uma pausa estratégica — e poética. Uma cidade que mistura o melhor dos dois mundos: arquitetura que parece conto de fadas, ritmo tranquilo, e uma cultura que se espalha nos detalhes.

E então Paris. Não como ponto final, mas como culminância. Porque terminar ali era quase simbólico. Já conhecíamos, sim. Mas voltamos com outros olhos. Com outra escuta. Com espaço pra olhar o que já foi visto e, ainda assim, se surpreender.

Foi assim que esse caminho fez sentido. Não pelo mapa, mas pelo momento.

Como montamos esse roteiro: escolhas com critério e afeto 

Antes de qualquer compra de passagem ou reserva de hotel, veio a conversa. O que a gente queria dessa viagem? O que fazia sentido viver agora? E aí vieram as respostas: conforto sem exagero, deslocamentos tranquilos, tempo suficiente em cada cidade, comida boa, espaços bonitos — e, acima de tudo, um ritmo que respeitasse a gente.

Pesquisamos muito. Blogs, vídeos, artigos, histórias. Ouvimos quem já foi, lemos relatos, olhamos imagens. Mas também ignoramos um monte de coisa. Porque nem tudo que é famoso vale a pena pra todo mundo. E essa foi uma das maiores liberdades: montar um roteiro que fosse nosso, com o que tocava a gente de verdade.

Cada cidade teve seu tempo. Nada de ficar dois dias e sair correndo. A gente quis sentir os lugares. Caminhar sem rumo. Ter margem pra mudar de ideia. E, claro, viver experiências que fossem além dos pontos turísticos.

Esse roteiro foi planejado com intenção, mas sem rigidez. E isso fez toda a diferença.

Primavera: o tempo certo pra caminhar com leveza 

Escolhemos viajar entre o fim de abril e o começo de maio. E, sinceramente, não poderia ter sido melhor.

A primavera na Europa tem um charme que nenhuma outra estação entrega. Os dias são longos, as temperaturas são amenas, as cidades estão floridas, e tudo parece respirar com mais leveza. É aquele clima em que você pode tomar vinho num banco de praça, caminhar por horas sem suar demais, e ainda pegar um fim de tarde dourado.

Além disso, as cidades ainda não estão cheias demais. Os preços são mais amigáveis. E os cafés ao ar livre ganham outra vida. Foi a estação perfeita pra caminhar com calma, viver do lado de fora e deixar a viagem acontecer sem atropelo.

A base que sustentou tudo: hotéis, cafés da manhã e trens 

A escolha das hospedagens foi uma das partes mais importantes do planejamento. A gente queria lugares bem localizados, bonitos, com conforto real — e com cafés da manhã que dessem vontade de sentar, comer devagar e conversar sobre o dia. E conseguimos.

Em Zurique, ficamos num hotel com vista para os telhados antigos. Toda manhã tinha pão escuro, queijo local, ovos mexidos, frutas cortadas com precisão suíça e um café forte que fazia tudo funcionar. O silêncio da cidade entrava pela janela. Era o começo ideal pra cada dia.

Munique foi mais urbano. Um hotel boutique, perto de tudo, com chuveiro bom, cama melhor ainda, e uma mesa de café da manhã que parecia banquete: pretzel quentinho, croissants, frios, bolo que parecia da avó de alguém, e chá servido em bule de ferro.

Estrasburgo foi charme em forma de hospedagem. Um hotel pequeno, quase artesanal, com escadas de madeira, cheiro de flores e um café delicado: baguetes crocantes, manteiga de verdade, geleias da Alsácia e chá em bule florido. Acordar ali era um presente.

Em Paris, a gente se deu um mimo: ficamos no Marais, num prédio antigo com alma nova. Café com croissant ainda quente, baguetes macias, brie, frutas frescas, e aquele ar de que tudo ali já era cenário. A janela aberta, o ruído da cidade acordando, e a certeza de que terminar a viagem ali era o certo.

Todos os deslocamentos foram feitos de trem — e isso ajudou a manter o clima leve. Compramos tudo com antecedência, com horários pensados pra não ter pressa e tempo de sobra pra chegar, partir e se ajeitar. Os trens eram confortáveis, pontuais e até poéticos. Era o nosso momento de respirar, reorganizar e conversar sobre o que tinha acabado de passar — ou o que estava por vir.

 

O que a viagem me entregou em cada canto h2

O roteiro estava pronto. Mas o que aconteceu em cada lugar foi além do que a gente imaginava. Porque não foram só cidades no mapa — foram capítulos diferentes da mesma história, cada um com seu ritmo, sua cor, seu sabor.

Aqui, eu conto o que ficou em mim de cada um deles — e por que, se pudesse, eu faria tudo de novo.

Em Zurique 

Zurique abriu a viagem com silêncio, precisão — e surpresa.
A gente já esperava a ordem, a limpeza, o ar de cidade que funciona. Mas o que não sabíamos é que Zurique é feita de contrastes sutis, de belezas que não gritam, de experiências que se revelam quando você topa viver sem expectativa demais.
Foi a cidade certa pra nos tirar do automático. Pra respirar mais devagar e afinar o olhar antes de seguir viagem.
Foram quatro dias inteiros descobrindo que, por trás da fachada discreta, existe uma cidade que dança. Só que no próprio ritmo.

O início calmo que parece filme europeu 

Nos hospedamos no centro histórico, e foi a melhor decisão.
As manhãs começavam com passos ecoando nas pedras da rua, vitrines de confeitaria perfeitamente arrumadas e ciclistas passando pontualmente — como se seguissem uma trilha sonora que a gente ainda não conhecia.
Na primeira manhã, sentamos num banco perto do rio com um cappuccino e um pão Zopf recém-saído do forno. Era simples, mas parecia o primeiro café em meses em que ninguém precisava correr.
Nos primeiros momentos, Zurique parecia tímida. Mas bastou caminhar pela margem do rio Limmat, ver os telhados refletidos na água verde-clara e cruzar a cidade a pé pra entender: aqui, o silêncio fala. E tudo é mais bonito quando a gente para de procurar e começa a reparar.

Arte em silêncio: quando o museu vira pausa viva 

Nossa primeira imersão cultural foi no Kunsthaus Zürich — o maior museu de arte da Suíça, e um dos mais bonitos que já visitamos. Ele é dividido em dois prédios: o antigo, com ar clássico e paredes aconchegantes, e o novo, recém-inaugurado, com linhas retas, concreto claro e salas banhadas por uma luz suave que parece feita sob medida pra contemplação.

A gente entrou achando que veria os de sempre — Monet, Van Gogh, Picasso. E eles estavam lá, lindos. Mas o que ficou mesmo foram os artistas suíços que nunca tinham cruzado nosso caminho. Salas inteiras dedicadas a nomes como Ferdinand Hodler, Alberto Giacometti e Johann Heinrich Füssli. Estéticas muito diferentes entre si, mas todas com uma coisa em comum: elas nos pegavam de jeito. Pela cor. Pela estranheza. Pelo silêncio.

A arquitetura do prédio novo parecia coreografada com o que ele abriga. Tudo ali convida a andar devagar. A sentar num banco de madeira clara e ficar olhando uma tela até a gente se cansar da pressa que trouxe de fora.

Não foi o museu mais famoso da viagem.
Mas foi o primeiro que nos parou por dentro.

Outro espaço que nos atravessou foi o Museum Rietberg — um museu que a maioria dos roteiros turísticos nem menciona, mas que entrega uma das propostas mais singulares da cidade. Dedicado às artes não-europeias, ele abriga coleções da Ásia, África, América e Oceania, com peças que vão de máscaras tribais a esculturas indianas, cerâmicas chinesas, deuses ancestrais e miniaturas cheias de simbolismo.

O prédio principal é uma mansão histórica em estilo neoclássico, e atrás dela, um anexo moderno de vidro e concreto enterrado no jardim. A integração entre o antigo e o novo já cria contraste — mas o que realmente mexe com a gente é a forma como tudo está exposto: com respeito, com contexto, com intenção.

Ali, o mundo parece maior. E a arte deixa de ser só estética pra virar ponte.

Torres, vitrais e o tempo contado em outro compasso 

As igrejas de Zurique não foram só pontos no mapa — foram respiros na paisagem. Cada uma à sua maneira, revelou uma faceta da cidade que a gente talvez não percebesse sem parar.

A Grossmünster, com suas torres gêmeas, impõe de longe. Dizem que ela foi construída sobre o túmulo de São Félix e Santa Régula, os santos padroeiros de Zurique — e que ali teria começado a Reforma Protestante suíça, com Ulrico Zuínglio.
Por dentro, a arquitetura é limpa, de pedra clara, com colunas altas que parecem sustentar o tempo.
Subimos até o alto de uma das torres. A escada de madeira rangeu sob nossos pés e, quando chegamos lá em cima, a cidade se abriu como um livro ilustrado: o rio Limmat serpenteando entre os telhados, as pontes cruzadas por bondes pontuais, o lago azul-claro ao fundo. E mais distante, os contornos dos Alpes, como moldura.
Foi um daqueles momentos em que o corpo para e o olhar se alonga.

Poucos metros adiante, a Fraumünster parecia o oposto. Fachada modesta, sem alarde. Mas basta entrar pra perceber: ali, a beleza está na luz.
Os vitrais assinados por Marc Chagall, instalados ali nos anos 1970 quando ele já tinha mais de 80 anos, transformam a nave da igreja em um quadro em movimento. Cada janela representa uma cena bíblica, mas de um jeito quase místico: Adão e Eva em tons quentes, Moisés em azul profundo, o anjo dourado como ponto de luz central.
A luz muda o tempo todo. E a gente muda junto.
Ficamos ali um tempão. Não por fé. Por encantamento mesmo.

No meio do caminho, quase sem querer, passamos pela Igreja de São Pedro — aquela do relógio gigante, com mais de oito metros de diâmetro. Ele é considerado o maior mostrador de torre da Europa. O curioso é que o relógio foi usado oficialmente como o relógio da cidade até o século passado, marcando os sinos e até os horários do comércio.
Por dentro, o templo é mais contido — mas tem uma atmosfera tranquila, com madeira clara e bancos largos.
Foi ali que entendemos uma das coisas mais bonitas de Zurique: nada precisa gritar pra ser inesquecível. Algumas coisas, aliás, só se revelam quando a gente ajusta o próprio ritmo ao da cidade.

Zürich West: onde a cidade se reinventa em silêncio 

No outro lado do mapa (e de um certo imaginário), Zurique mostra que também sabe ser urbana, criativa, meio caótica — mas do seu jeito.

Zürich West, antigo bairro industrial, virou símbolo de renovação: onde antes existiam galpões, agora brotam cafés descolados, arte de rua, livrarias independentes e gente que parece sempre ter algo interessante na mochila.
Começamos pela Freitag Tower, uma torre feita com contêineres empilhados, onde cada andar abriga uma parte da loja de bolsas recicladas mais icônicas da Suíça. Subimos até o topo, onde dá pra ver os trilhos do trem, os telhados modernos e os trilhos de ideias novas também.

Depois seguimos pro Im Viadukt — um corredor criativo sob os arcos de uma antiga ferrovia.
Ali dentro, tudo tem curadoria: boutiques com peças feitas à mão, floriculturas que parecem ateliês, um café com pão de fermentação natural e gente trabalhando de fone com cara de quem tá escrevendo o próximo grande romance.
Foi a parte mais “não-Suíça” da cidade — mas talvez, a mais atual.
E mesmo nesse lado mais descolado, o tempo seguia calmo. Zurique não corre. Nem quando se reinventa.

Uetliberg: a cidade vista como promessa cumprida 

No fim de um dia que já parecia completo, pegamos o trem até o Uetliberg, a montanha que abraça Zurique do alto. O trajeto é curto, a subida é leve — mas o que espera lá em cima não tem nada de pequeno.

Da trilha à torre de observação, tudo convida ao silêncio atento. O tipo de silêncio que não vem de dentro da igreja, mas de fora da cidade.

Lá do alto, Zurique vira miniatura.
O lago reflete o céu como espelho polido, os bondes parecem brinquedo, e se o tempo estiver generoso, dá pra ver os Alpes como se alguém tivesse desenhado com giz branco no horizonte.

A gente levou uma garrafinha de vinho branco suíço e brindou ali mesmo, sentadas num banco de madeira, com casaco no colo e riso solto. Era primavera, e o dia escureceu só depois das 20h.
O sol foi baixando devagar — como se soubesse que era bonito demais pra ir embora rápido.

Compras, chocolate e o tipo certo de excesso

A gente sabia que a Bahnhofstrasse era uma das ruas comerciais mais famosas (e caras) do mundo. Mas não fomos atrás de Chanel ou Rolex — fomos pra ver a cidade desfilar.
E ela desfilou: com vitrines impecáveis, gente bem vestida andando devagar, vitrôs de joalheria que mais pareciam exposições de arte. É o tipo de elegância que não precisa se anunciar.
Mas o que a gente foi buscar ali não estava no luxo. Estava no ritmo, no cheiro de café que escapava das portas de vidro automático, nos bondes que passavam devagar, nos detalhes da cidade funcionando como um relógio — literalmente.

Claro que entramos em lojas de chocolate. Isso não é turismo, é rito.
As trufas artesanais da Sprüngli foram um dos ápices. Pequenas, macias, com nomes poéticos e sabores que ficavam na boca e na memória.
E foi ali, entre um chocolate e outro, que a gente entendeu: Zurique também sabe ser indulgente — mas do jeito certo.

Nas ruas laterais, menos famosas e mais humanas, encontramos papelarias centenárias, lojas de vinil, floriculturas com arranjos que pareciam pintados à mão.
Foi o tipo de passeio que parece fútil de longe — mas, de perto, vira cena de filme europeu: leve, bonito, cheio de textura.

Cataratas do Reno: quando a natureza fala mais alto 

Em um dos dias, decidimos sair cedo de Zurique para fazer um bate-volta até um dos lugares que mais nos intrigavam no mapa: as Cataratas do Reno (ou Rheinfall), a maior queda d’água da Europa em volume. O trajeto até a estação de Neuhausen am Rheinfall é curto — pouco menos de uma hora de trem — e já começa a preparar o olhar: campos abertos, pequenas vilas, trechos de floresta.

Chegando lá, a primeira coisa que percebemos não foi a vista, mas o som. Um rugido constante, firme, como se a água estivesse viva e conversando com a terra.
E então, de repente, a imensidão apareceu.

Com mais de 150 metros de largura, as quedas não são tão altas — mas a força, a velocidade, o barulho… é impossível ficar indiferente. Caminhamos pela passarela que leva até bem perto do fluxo principal. O vento levantava gotinhas de água gelada, e foi como um banho rápido de presença.
A força da natureza ali não precisava ser monumental pra ser inesquecível.

Depois do impacto da água, seguimos para Schaffhausen, a cidade vizinha que parece ter saído de um livro. O centro histórico é todo medieval, com fachadas pintadas, torres de pedra e ruelas que pedem pra serem exploradas sem rumo.
Subimos até o Munot, uma fortificação circular no alto da colina, e lá de cima a cidade se abriu tranquila: o rio, os telhados, as montanhas ao fundo.
Paramos numa confeitaria pequena perto da praça, tomamos chocolate quente e pegamos o trem de volta com a sensação de que aquele dia já tinha valido a viagem inteira.

Lucerna: onde a cidade parece ter sido pintada à mão 

Em outro dia, pegamos o trem bem cedo e fizemos o bate-volta até Lucerna, a pouco mais de uma hora de Zurique. A chegada já era uma promessa: estação de trem com vista pro lago, montanhas lá no fundo, e um centro histórico que parecia recortado de um livro ilustrado.

Lucerna tem esse poder: te desarma com beleza logo de cara, mas depois vai entregando detalhes. É delicada, sim — mas tem história, tem camadas, tem presença.

Começamos cruzando a Kapellbrücke, a ponte de madeira coberta mais antiga da Europa. Ela corta o rio Reuss como uma pincelada firme, com suas flores vermelhas nas laterais e o som da água correndo por baixo. No meio da ponte, a Wasserturm, antiga torre de água, faz tudo parecer ainda mais medieval — mas sem perder a leveza.

Depois seguimos pelo centro antigo, cheio de prédios com pinturas nas fachadas, fontes discretas e vitrines que pareciam montadas por artistas. Entramos em lojinhas, provamos um chocolate amargo com flor de sal, tiramos foto com uma senhora que fazia rendas na calçada — e tudo isso sem pressa.

Paramos pra almoçar num restaurante à beira do rio, daqueles com guarda-sóis brancos e garçons de colete. Pedimos peixe fresco, vinho branco gelado e um pão escuro com crosta de sal. Ficamos ali mais tempo do que o planejado — mas exatamente o tempo que a cidade merecia.

No fim da tarde, subimos até parte da antiga muralha medieval (Museggmauer), com suas torres ainda intactas. A vista de cima misturava telhados vermelhos, o lago e as montanhas — e ali, sentadas no muro, a gente entendeu que Lucerna não era só um cartão-postal. Era uma pausa real.

Antes de voltar pra estação, compramos um sorvete e nos sentamos na grama, perto da água. Tinha gente lendo, gente deitada no sol, casais de mãos dadas. E a cidade, mais uma vez, parecia feita pra ser vivida em silêncio leve.

Voltamos pra Zurique com os pés cansados, mas o coração cheio.
Lucerna entregou o que a gente nem sabia que precisava naquele ponto da viagem: doçura, pausa e beleza sem barulho.

Quando Zurique surpreende em silêncio e luz baixa 

Todo mundo fala da precisão de Zurique. Da pontualidade, da elegância discreta, da ordem que tudo tem. Mas o que pouca gente diz — e o que a gente descobriu ali — é que Zurique também tem ritmo. E ele pulsa sem precisar fazer barulho.

No fim de um dos dias, saímos pra caminhar por uma área menos óbvia da cidade — a Langstrasse, bairro plural e cheio de pequenos bares com luzes amareladas, vitrines charmosas e um ar de liberdade que surpreende.
Paramos num bar de balcão iluminado, com música baixa e conversa boa. Não era sobre sair, era sobre estender o dia de um jeito mais leve.

Tomamos vinho suíço em taça pequena, provamos petiscos que vinham quentinhos num guardanapo de linho, e ficamos ali vendo a cidade desacelerar.
Zurique, nesse momento, não era só bonita. Era íntima.

Fechando a Suíça com sabor, presença e um pouco de chocolate 

A despedida de Zurique foi doce. E não só pelo chocolate — que, aliás, não faltou.
Foi doce porque a cidade nos recebeu com ordem, mas se despediu com entrega. Mostrou paisagem, mas também camadas.

Nos quatro dias ali, vimos arte e silêncio, história e arquitetura, sabor e natureza.
Tivemos dias em museus e tardes à beira do lago. Degustamos comidas novas, fizemos bate-voltas mágicos, conversamos em bancos de praça e voltamos pra casa com a alma tranquila — e a mala cheirando a chocolate Sprüngli.

Zurique nos recebeu com precisão — e nos devolveu pro mundo com leveza.

Munique com alma e história 

Deixamos Zurique com aquela sensação boa de começo certo.
A ordem, o silêncio, os lagos refletindo montanhas… tudo nos preparou pra um novo ritmo. O trem até Munique durou pouco mais de três horas — e foi ali, naquele vagão confortável, que a viagem virou página.
A paisagem foi mudando com calma: os Alpes ficando pra trás, os vilarejos ganhando cor, as conversas ficando mais leves. A gente abriu vinho, dividiu um pão com queijo suíço, riu de alguma besteira — e entendeu, sem precisar dizer, que a próxima cidade ia ser diferente.

Munique chegou pra gente com mais corpo.
Mais presença. Mais chão. Era como se a cidade dissesse: “agora anda, vive, experimenta”.
Mas sem correria — só com intensidade.

 Foram quatro dias inteiros, recheados de história, cerveja, arte e muita caminhada. E o melhor: a cidade nos recebeu com tudo isso sem esforço — como quem não precisa provar nada, mas entrega muito.

Centro histórico: onde tudo pulsa sem parecer esforço 

Nos hospedamos perto do centro — e a localização não poderia ter sido melhor. Munique é uma cidade que se vive a pé.
O portão Karlstor, ali onde a cidade antiga começa, parece um arco que convida pra outra etapa da viagem.

Logo em seguida, a Neuhauser Straße: rua de pedestres com vitrines charmosas, padarias que exalam manteiga e turistas que se misturam com moradores.
Tudo ali tem movimento, mas sem atropelo.

Na Marienplatz, o coração simbólico da cidade, o olhar sobe direto pro Neues Rathaus — o prédio da nova prefeitura com fachada neogótica e detalhes que parecem bordados em pedra.
Às 11h (e em alguns horários da tarde), o Rathaus-Glockenspiel entra em cena: 43 sinos, 32 figuras, e a encenação de dois momentos históricos da Baviera.
Por alguns minutos, todo mundo para.
E a gente parou também. Aplaudimos no fim, com um sorriso quase infantil.
À direita, a antiga prefeitura (Altes Rathaus) compõe o cenário com sua arquitetura mais leve — e ali perto, a torre da Peterskirche, que acompanha a praça como quem observa tudo há séculos.

Depois disso, seguimos sem mapa. Entramos em vielas calmas, tomamos café numa esquina escondida, compramos cartões-postais numa papelaria minúscula.
Munique se revelou como cidade grande com alma de bairro.
Cheia de história — mas acessível. Viva — mas sem gritar.

Entre catedrais, palácios e arte: o peso da história com beleza

Frauenkirche, a catedral símbolo de Munique com suas torres gêmeas que se destacam no horizonte. Por fora, ela é imponente — grandiosa sem exagero. Por dentro, surpreende pelo contraste: sóbria, clara, com um silêncio que parece respirar junto com quem entra. Lá dentro, descobrimos a famosa pegada do diabo no chão, uma marca escura cercada de lenda. Dizem que o próprio diabo teria deixado aquela marca ao ser enganado na construção da igreja. Real ou não, a história já vale a visita. Mas o que ficou mesmo foi a sensação de reverência sem peso, de grandeza sem ostentação.

O Residenz München — e se a igreja foi sobriedade, aqui foi puro excesso bávaro. O antigo palácio dos reis da Baviera é um mergulho em outra era: salões que brilham com ouro, espelhos que se multiplicam, tapeçarias pesadas e tetos pintados que fazem o pescoço doer de tanto olhar pra cima. A cada sala, um impacto. A cada corredor, uma pergunta: “como isso tudo ainda existe?”.
Mas o mais impressionante talvez tenha sido o Antiquarium, a galeria mais antiga do palácio, com seu teto em abóboda e esculturas que parecem nos observar. Não dá pra passar rápido. A visita é longa, mas te envolve. E te dá uma dimensão concreta do que foi — e ainda é — a cultura real da Baviera.

Pra equilibrar, deixamos a realeza e mergulhamos no moderno no Lenbachhaus — um museu de arte moderna instalado na antiga residência do pintor Franz von Lenbach. Foi lá que a gente encontrou o inesperado: a coleção do grupo Der Blaue Reiter, com Kandinsky, Klee e outros artistas que transformaram a arte europeia no século XX. As cores vibrantes, os traços distorcidos, a emoção no lugar da forma… tudo ali dizia: “sinta, não entenda”.
E foi o que fizemos. Sentamos num dos bancos centrais da galeria e deixamos que os quadros falassem com a gente. Era arte com alma — e num prédio que por si só já é bonito, com salas amplas, janelas generosas e um jardim interno que convida pra ficar mais um pouco.

Do mercado ao parque: a cidade que respira com a gente

Se os palácios e museus de Munique nos levaram a séculos passados, foi nesse dia que a cidade nos trouxe pro presente. Um presente vivido com garfadas, passos, sol na pele e cafés em xícaras de cerâmica. Um roteiro que não parece roteiro — mas que marca a gente no corpo e na memória.

Viktualienmarkt: o estômago da cidade bate aqui

O Viktualienmarkt não é só um mercado a céu aberto. Ele é parte do coração de Munique — e pulsa. Instalado desde 1807, bem ao lado da Marienplatz, ele começou como um simples mercado de alimentos e hoje reúne mais de 140 barracas fixas, que oferecem de tudo: frutas impecáveis, temperos frescos, flores locais, embutidos, queijos e cerveja de verdade — tudo isso emoldurado por um coreto central e por árvores altas que fazem sombra entre as mesas comunitárias.

A gente chegou faminta e curiosa, e foi impossível não montar um banquete só com as mãos.
Pretzel recém-assado, salsicha branca (Weißwurst) com mostarda doce, suco de maçã artesanal e um Apfelstrudel servido morno, com canela e açúcar polvilhado.
Sentamos entre moradores locais, dividimos banco com uma senhora que almoçava sozinha e um casal que ria alto. E ali, entre uma mordida e outra, a cidade se mostrou generosa, despretensiosa e cheia de sabor.

Dizem que o Viktualienmarkt é onde Munique vai quando quer comer bem e viver devagar. E a gente entendeu exatamente o que isso significa.

Glockenbachviertel: onde criatividade e afeto se encontram sem esforço

De lá, seguimos caminhando até o Glockenbachviertel, um bairro que vive entre o charme do passado e a leveza do presente.
Antigamente uma área industrial discreta, hoje ele é o coração da vida criativa e alternativa da cidade. Mas sem pose — tudo é natural. Cafés autorais, lojinhas que parecem saídas de revista, ateliês escondidos em fundos de quintal.

Entramos num brechó perfumado com lavanda, onde cada cabide parecia contar uma história. Um lenço de seda azul-marinho com florzinhas douradas virou o nosso souvenir mais inesperado.
Logo depois, sentamos num café pequeno, onde o bolo de cenoura era úmido, coberto com cream cheese delicado e servido com canela polvilhada. Tudo servido em pratos de cerâmica artesanal, com flores nas mesas e uma playlist suave ao fundo.

O bairro não grita modernidade — ele sussurra estilo com alma. Foi ali que Munique deixou de ser uma cidade pra ser uma sensação: a de estar exatamente onde se deveria estar.

Englischer Garten: mais do que parque — um quintal com alma bávara

Encerramos o dia no Englischer Garten, um dos maiores parques urbanos do mundo, maior até do que o Central Park em Nova York. Mas o que impressiona não é o tamanho — é o jeito como o parque se integra à vida da cidade.

Criado no século XVIII como um “parque para o povo”, o jardim foi inspirado nos jardins ingleses que priorizavam a natureza fluida, com lagos, trilhas sinuosas e áreas abertas pra convivência.
E é isso que se vive ali: convivência.

Andamos sem pressa entre árvores centenárias, cruzando famílias fazendo piqueniques, jovens deitados na grama, senhores jogando xadrez em bancos de madeira e surfistas desafiando a onda artificial do Eisbach, um canal criado por engenheiros e hoje um dos spots mais fotografados da cidade.

No fim da tarde, seguimos até a área da Chinesischer Turm (Torre Chinesa), uma estrutura exótica de cinco andares cercada por uma estrutura exótica de cinco andares, cercada por um dos biergartens mais tradicionais da cidade.

Ali, tudo era convivência. Filas organizadas para pegar cerveja nos galpões de madeira, longas mesas coletivas debaixo das árvores, copos grandes de Helles tilintando num brinde espontâneo, sorrisos que se espalhavam entre desconhecidos.

A gente pegou nossas canecas, uma porção de schnitzel com batata, e sentou num canto qualquer, onde o céu já começava a dourar o dia.
O som era um misto de conversas em várias línguas, risadas e folhas balançando. Nada grandioso — mas tudo profundamente vivo.

Entre o Viktualienmarkt, Glockenbachviertel e o Englischer Garten, Munique se mostrou inteira.
Uma cidade que não precisa provar nada pra ninguém, mas que se revela aos poucos pra quem caminha com o coração aberto e a fome certa — de comida, de estética, de tempo bom.

Foi um dia simples — mas cheio.
Desses que a gente só percebe o quanto amou quando volta pra casa e sente saudade do cheiro do pretzel, do vento no parque, e do lenço de lavanda na mala.

Do futuro à realeza: a cidade em extremos elegantes 

Munique não escolheu entre tradição e inovação — ela decidiu abraçar os dois. E foi assim, em dois espaços que não podiam ser mais diferentes, que a cidade nos mostrou suas pontas: uma voltada pra frente, outra fincada no passado. Ambas, incrivelmente belas.

No Museu da BMW, entramos num universo que, mesmo pra quem não é apaixonada por carros, impressiona. A arquitetura do prédio já diz tudo: curvas futuristas, vidro e aço em movimento, como se o edifício estivesse em marcha constante. Lá dentro, o tempo acelera — mas com sofisticação.

Logo na entrada, fomos recebidas por protótipos que pareciam ter saído de um filme de ficção científica. Carros-conceito, elétricos, silenciosos, com design minimalista e tecnologias que mais pareciam pensamento materializado. As exposições interativas permitiam que a gente entendesse a evolução — não só dos veículos, mas da mobilidade como ideia. E mesmo sem entender de motores, saímos com vontade de dirigir o futuro.

E então veio o contraste.

Do aço para os espelhos, do motor para os salões — partimos para o Palácio Nymphenburg, o antigo refúgio de verão da família real da Baviera. E o que encontramos ali foi um outro tipo de potência: a do tempo que passa devagar, da beleza que não precisa justificar sua existência.

O palácio é imenso. Imenso mesmo. A começar pela fachada, que se estende diante de jardins geométricos, fontes, trilhas com árvores simétricas, cisnes passeando com elegância e um canal que reflete o céu como se fosse espelho de conto de fadas.

Por dentro, cada sala parecia uma pintura habitável. Tetos afrescados, paredes cobertas de tapeçaria, móveis que parecem sussurrar histórias. O Salão dos Espelhos, com sua luz dourada e simetrias infinitas, deixou a gente em silêncio por alguns minutos. Não por reverência — mas porque o corpo precisava de tempo pra absorver.

E mesmo com toda essa grandiosidade, o que ficou foi a sensação de leveza. De andar por um lugar que foi pensado pra encantar — e que, séculos depois, ainda consegue.

Entre a BMW e o Nymphenburg, Munique revelou sua amplitude.

E a gente saiu com a certeza de que não precisa escolher entre o futuro e o passado — quando o presente oferece os dois, assim, lado a lado, com tanto cuidado e beleza.

Um castelo que parece sonho 

Em um dos dias, fizemos aquele tipo de bate-volta que justifica acordar cedo: partimos de trem até Füssen, no sul da Baviera, pra visitar o Castelo de Neuschwanstein — sim, aquele mesmo, que inspirou o castelo da Cinderela nos filmes da Disney.

A viagem até lá já é um prelúdio encantado: pouco menos de duas horas, com janelas enquadrando montanhas cobertas de floresta, vilarejos tranquilos e o céu que vai clareando conforme nos aproximamos dos Alpes. Em Hohenschwangau, onde o trem termina, já dá pra ver as torres brancas do castelo despontando no alto — como um segredo que a paisagem guarda com orgulho.

A caminhada até o castelo é leve, mas cheia de pausas. Porque a cada curva, a vista muda. Primeiro vem a floresta, depois o vale, depois os lagos Alpsee e Schwansee brilhando lá embaixo, e por fim… o Neuschwanstein, majestoso, silencioso, dramático como o próprio rei que o mandou construir.

Ludwig II da Baviera não queria apenas um castelo — ele queria um refúgio de fantasia. Um lugar onde pudesse se afastar da política e mergulhar na arte, nos mitos, na ópera de Wagner, seu compositor favorito. E ele conseguiu. O castelo é quase teatral: salões com pinturas inspiradas em lendas medievais, escadarias que parecem flutuar, detalhes góticos, dourados, azuis, e uma sala do trono… sem trono.

É que Ludwig morreu antes de ver o castelo finalizado. E talvez por isso ele ainda carregue um ar de inacabado, de sonho interrompido. Mas é justamente isso que torna tudo mais poético.

Lá do alto, entre as torres, a gente viu o vale inteiro. Os lagos, os telhados pequenos da cidade, as trilhas serpenteando pela floresta. Respiramos fundo — e foi como se o mundo tivesse parado por um instante só pra gente agradecer por estar exatamente ali.

Neuschwanstein não é só bonito. É um delírio arquitetônico, um monumento à beleza como escapismo. E nesse dia, a gente entrou nesse sonho — de corpo inteiro.

Munique: intensidade vivida com os pés no chão 

A gente chegou em Munique com energia de quem queria viver tudo — e a cidade entregou. Mas fez isso do jeito bávaro: sem pressa, sem exagero, sem precisar gritar.

Foi uma cidade que nos deixou andar muito, comer bem, rir alto, dançar, olhar pra arte e pro verde com o mesmo interesse. Que fez do mercado uma experiência sensorial, do parque um quintal de fim de tarde, e da noite uma pausa com gosto de liberdade.

Aqui, a gente não só visitou. A gente viveu.

E quando partimos, Munique ficou em nós como ficam os lugares que a gente não esperava amar tanto — mas amou. E foi com esse corpo satisfeito e essa mente já um pouco mais desacelerada que seguimos viagem.

Não porque estávamos cansadas. Mas porque sabíamos que, em Estrasburgo, a beleza ia sussurrar — e a gente já estava pronta pra ouvir.

De uma cidade que pulsa pra uma que sussurra: o trem até Estrasburgo

Deixamos Munique com as pernas cansadas, mas o coração leve.

Era hora de desacelerar de novo — e a escolha de Estrasburgo pra esse respiro foi certeira. Um lugar no meio do caminho entre a França e a Alemanha, geograficamente e na alma. Uma cidade que fala duas línguas com sotaque de tempo bom.

O trem partiu no fim da manhã, com céu nublado e janelas emoldurando campos amarelos, árvores solitárias, casinhas com fumaça saindo da chaminé. A gente levou lanchinhos do mercado, abriu uma garrafa de vinho branco e deixou o vagão virar sala de estar. Era como se o deslocamento fosse, de novo, o próprio destino.

Duas amigas conversavam baixinho no banco da frente. Do lado, um senhor lia um livro antigo. E nós ali, entre risos e silêncio, assistindo a paisagem mudar devagar.

Quando a gente chegou, Estrasburgo já parecia nos conhecer.

Mas isso… eu te conto no próximo trecho ✨

Estrasburgo: um intervalo bonito entre dois mundos 

Localizada na fronteira entre a França e a Alemanha, Estrasburgo é uma cidade que parece ter sido feita para os intervalos — entre países, entre idiomas, entre ritmos. Carrega no corpo a arquitetura enxaimel, os vitrais góticos, os canais tranquilos e uma atmosfera que mistura precisão germânica com afeto francês.

Depois da vibração intensa de Munique e antes do grand finale em Paris, ela foi pausa com propósito. Um lugar onde a gente conseguiu respirar fundo, caminhar sem mapa e se perder em belezas que não pedem esforço pra acontecer.

Foram dois dias que pareceram feitos pra acolher tudo o que já tínhamos vivido — e abrir espaço pro que ainda estava por vir.

Em Estrasburgo, a gente não correu. A gente flutuou.
E foi exatamente isso que ela nos ensinou: dá pra seguir em frente com leveza — e com presença.

Um centro histórico que pulsa beleza e silêncio bem cuidado 

Nos instalamos na Grande Île, uma ilha histórica cercada por canais, declarada Patrimônio Mundial pela UNESCO. Caminhar por ali é como entrar num livro ilustrado — ruas de pedra, casas medievais com janelas floridas, placas bilíngues e aquele aroma de padaria que parece te seguir por quarteirões.

No coração desse cenário, a Catedral de Notre-Dame de Estrasburgo impressiona antes mesmo da primeira palavra. Gótica, imensa, esculpida em detalhes quase vivos. Subimos até o topo da torre e vimos telhados cor de ferrugem, barcos lentos nos canais e as montanhas da Alsácia ao longe.

Lá dentro, o Relógio Astronômico prende qualquer olhar. Um mecanismo do século XVI com esculturas em movimento que representam os signos, os planetas, os apóstolos — como se o tempo ali tivesse outro jeito de passar.

La Petite France: um cenário que parece inventado pra emocionar 

Bastou atravessar uma ponte pra chegar à parte mais encantadora da cidade: La Petite France. Casinhas enxaimel que parecem inclinadas de propósito, canais com reflexos perfeitos, lojas de artesanato, pontes de pedra. E um ritmo que só se revela quando você para.

Sentamos num café à beira da água, pedimos tarte flambée e uma taça de vinho da Alsácia — fresco, aromático, quase floral. Ficamos ali, observando a cidade se mover sem pressa.

Passamos por uma confeitaria e compramos bredele, os biscoitinhos típicos da região. Dissemos que era pra mais tarde. Comemos todos antes de dobrar a esquina.

Entramos numa lojinha de gravuras e conhecemos uma artista local que nos contou a história da sua infância entre aqueles canais. Saímos com um pôster delicado que hoje é memória pendurada.

Cultura viva nas entrelinhas

No Musée Alsacien, mergulhamos na vida cotidiana de outras épocas: móveis rústicos, cerâmicas pintadas à mão, vestimentas típicas, objetos que pareciam ter sido usados ontem. Era como se o museu tivesse cheiro — e lembrança também.

Depois, fomos até a Place Kléber, praça ampla onde a cidade se encontra com o presente: artistas de rua, mochileiros, gente lendo baguete em uma mão e jornal na outra. Compramos sabonetes artesanais, vinho pra levar e bebemos uma taça ali mesmo, sentadas num banco qualquer, assistindo o vai e vem sem roteiro.

O parque das cegonhas e das pausas necessárias 

O Parc de l’Orangerie foi achado sem querer — e virou um dos lugares favoritos. Entre lagos e jardins floridos, vimos as famosas cegonhas da Alsácia, símbolo da região, caminhando solenes como se fossem parte do cenário oficial.

Ficamos um tempo na grama, ouvindo crianças brincando, partilhando um doce típico, deixando a cidade escorrer devagar por dentro. Às vezes, tudo o que se precisa é de um banco à sombra e um tempo que não pressiona.

Canais, espelhos e um adeus que parece promessa 

Pra fechar a experiência, embarcamos no clássico passeio de barco pelos canais. O barco vai devagar, atravessa o centro histórico, passa pelas écluse (as eclusas que regulam o nível da água), por bairros mais modernos, e termina com a silhueta do Parlamento Europeu no horizonte.

Era fim de tarde. A luz dourada fazia a água parecer ouro líquido. E a cidade parecia acenar, em silêncio, como quem sabe que a gente vai voltar.

Um jantar sem pressa e com presença 

Na última noite, não quisemos sair. Montamos nosso próprio jantar de despedida: queijo Munster, pão fresco, uvas doces e vinho gelado. Rimos, lembramos dos dias anteriores, fizemos planos que não incluíam mapa — só vontade.

Estrasburgo foi isso: um intervalo com alma, um descanso cheio de beleza, uma pausa que não desacelera a viagem — só deixa tudo mais inteiro.

Um trem curto, um suspiro longo: rumo a Paris 

A saída de Estrasburgo foi silenciosa, quase contemplativa. A gente embarcou no trem sem pressa, com vinho branco da Alsácia na mochila, um pacote de bredele meio aberto e o coração em modo pausa.

O trajeto até Paris é rápido — menos de duas horas. Mas foi o bastante pra gente repassar cada momento, rir de coisas pequenas, cochilar um pouco e sentir que a viagem estava mudando de tom de novo.

A paisagem do lado de fora era de campo dourado, vilarejos delicados, luz suave de fim de manhã. Lá dentro, a expectativa era outra: Paris nos esperava. Uma cidade que já conhecíamos, mas que sabíamos que seria diferente dessa vez.

Não era sobre fazer tudo de novo — era sobre ver tudo com olhos novos.

E foi assim, entre uma mordida em um biscoito e uma troca de olhares cúmplices, que cruzamos a linha invisível da chegada.
Paris vinha aí.
E a gente estava pronta.

Em Paris 

Chegamos à última parada da viagem.
E sim — escolhemos terminar em Paris. Mesmo que todas nós já tivéssemos estado aqui antes.

Mas a verdade é que Paris é dessas cidades que mudam quando a gente muda.
Ela não cansa, não repete. Só se revela de formas diferentes.

E depois de dias intensos, passando por montanhas suíças, cervejarias alemãs e canais franceses, a gente queria um fim que fosse bonito.
Que tivesse charme, prazer, presença. Que fechasse tudo com poesia — mas também com intenção.

E foi isso que viemos buscar.
Uma Paris que já conhecíamos, mas que agora olhamos com outros olhos.
Mais livres, mais maduras, mais nossas.

Uma Paris mais editada 

Antes de qualquer torre, museu ou champagne, a gente viveu uma Paris mais nossa.
Mais editada. Menos postada. Mais presente.

Foi nos intervalos entre os grandes passeios que ela se mostrou mais viva.

Nos hospedamos no Marais — e que escolha acertada. Um bairro com alma, vitrines com história, cafés onde o garçom te reconhece no segundo dia, livrarias delicadas, lojas de sabonetes feitos à mão entre galerias que mais parecem estúdios de arte.

Pelos arredores do Canal Saint-Martin, fizemos pausas leves: brunch sem pressa, crianças correndo, livros abertos, e a sensação de que Paris estava respirando com a gente.

Em momentos mais espontâneos, escapamos até Belleville — e ali, Paris mudava de tom. Arte de rua, mercados locais, conversas cruzando línguas e uma taça de vinho num balcão estreito, enquanto a cidade fazia jazz do lado de fora.

Esses lugares não estavam no “roteiro”.
Mas foram os que deram textura aos nossos dias.
Onde Paris parava de posar — e começava a viver de verdade.

Os clássicos? Sim. Mas do nosso jeito 

Paris tem seus ícones — e eles continuam lá, firmes, lindos, cheios de história.
Mas a gente não veio pra fazer check-list.
Veio pra ver de novo com outros olhos.

Torre Eiffel & Cruzeiro no Sena: uma noite que a gente merecia 

Subir a Torre Eiffel no fim da tarde virou quase um ritual.
O céu começava a mudar de cor, e ali no alto — taça de champagne na mão — a cidade se abria aos nossos pés como se soubesse que era a última estação.

Na descida, paramos no primeiro andar. Aquela parte que pouca gente valoriza, mas que guarda vistas diferentes, exposições sobre a torre e um piso de vidro que dá um friozinho bom na barriga.

Pouco depois, caminhamos até o cais para o cruzeiro noturno. O embarque foi às 20h30. A bordo, uma mesa posta, velas acesas e silêncio elegante. O jantar vinha em etapas — vieiras, frango com cogumelos, sobremesa de chocolate escultural. Tudo harmonizado com vinho. Tudo com tempo.

Durante duas horas e meia, cruzamos o Sena iluminado. Passamos por pontes, palácios, cúpulas e monumentos vistos de baixo — e de outro jeito.
A Torre Eiffel acesa foi o ponto de partida e o de chegada.

Louvre à noite: silêncio, arte e tudo que só quem já foi entende 

Já conhecíamos o Louvre, mas quisemos vê-lo com calma. Com espaço. Com silêncio.
Agendamos uma visita noturna e guiada, numa sexta-feira — o único dia em que o museu fica aberto até as 21h45.

Entramos por uma entrada lateral, longe da multidão. Os corredores estavam vazios, e a luz dourada do entardecer entrava pelas janelas como em cena de cinema.

Passamos pelas obras mais conhecidas — Vênus de Milo, Mona Lisa, Vitória de Samotrácia — mas também por salas escondidas, esculturas silenciosas, afrescos que ninguém para pra ver.

Nosso guia contava histórias em tom de conversa. Sem pressa. Sem performance.
E a gente, que já tinha estado ali, saiu transformada.

Montmartre: a vista a gente já conhecia, mas o caminho foi outro 

Dessa vez, subimos Montmartre pela Rue des Saules.
Escondida, íngreme, cercada por poesia.

Passamos por uma vinha urbana (ainda existe!), ateliês com portas abertas, brechó com cheiro de lavanda, padaria com croissant saindo do forno.

Montmartre ainda tem esse charme de cidade dentro da cidade. A Sacré-Cœur continua lá, imponente, mas agora ela nos encontrou diferentes — menos turistas, mais presentes.

Ali, Paris parecia nos lembrar das outras versões que já fomos.
E das que estávamos virando.

Musée de l’Orangerie: onde Monet nos envolve em sua visão 

Ao entrar no Musée de l’Orangerie, fomos imediatamente atraídas pelas salas ovais que abrigam os “Nymphéas” de Claude Monet. Essas oito pinturas monumentais de nenúfares, distribuídas em dois salões, foram concebidas pelo artista para criar um ambiente de meditação e paz. ​

A arquitetura do espaço foi cuidadosamente planejada para complementar as obras. A luz natural penetra suavemente pelas claraboias, iluminando as telas de maneira uniforme e destacando as sutis variações de cor e forma que Monet tanto valorizava. ​

Além dos “Nymphéas”, o museu abriga a Coleção Walter-Guillaume, que inclui obras de artistas como Renoir, Cézanne, Modigliani e Picasso, oferecendo uma visão abrangente da arte moderna. 

Visitar o Musée de l’Orangerie nos proporcionou uma conexão íntima com a obra de Monet, preparando-nos para a próxima etapa da nossa jornada: Giverny, onde os jardins que inspiraram essas pinturas ganham vida.

Giverny: onde a arte de Monet ganha vida

Após nos encantarmos com os “Nymphéas” no Musée de l’Orangerie, sentimos que faltava algo: ver de perto o cenário que inspirou tais obras. Assim, partimos para Giverny, uma pitoresca vila na Normandia, situada a aproximadamente 80 km de Paris. A viagem de trem até Vernon leva cerca de 50 minutos, seguida por um curto trajeto de ônibus ou bicicleta até Giverny. ​

Em Giverny, a gente começa pela casa, que é tão cheia de cor quanto as telas. Os cômodos têm alma. A sala de jantar amarela, a cozinha azul, os quadros japoneses nas paredes — tudo parece ainda ocupado, como se Monet tivesse saído só pra regar as plantas.

Mas é do lado de fora que o coração dispara.
O primeiro jardim, chamado Clos Normand, é uma explosão de flores, com caminhos curvos, canteiros assimétricos e uma abundância que só quem viveu ali saberia organizar.
Depois atravessamos um túnel sob a estrada — e aí sim, o jardim de água.
A ponte japonesa, os salgueiros chorões, o lago com os nenúfares.
Tudo o que vimos nas telas estava ali, com cheiro de terra molhada e som de vento entre as folhas.
A luz refletida na água parecia pintar a gente também. E por um instante, o tempo parou.

Depois da imersão, almoçamos num restaurante pequeno, com cara de vila e comida com cara de domingo.
Tinha vinho branco leve, peixe grelhado com ervas, legumes crocantes, e uma sobremesa de pera escalfada com creme fresco. Aquele tipo de refeição que não precisa impressionar pra ser inesquecível.

Giverny foi poesia, sim. Mas com estrutura.
Foi o tipo de passeio que justifica acordar cedo, pegar trem, trocar de transporte — tudo.
Porque ali, mais do que entender Monet, a gente entendeu um pouco mais da beleza que nasce quando a vida e a arte se confundem.

Reims: onde história e champagne dividem a mesma taça

A gente escolheu ir até Reims por dois motivos que, no fundo, são um só: a história das coroações reais e o brilho das borbulhas no fundo da taça.

Reims fica a mais ou menos 130 km de Paris, e o jeito mais confortável de chegar é de TGV — o trem de alta velocidade. Saindo da Gare de l’Est, em cerca de 45 minutos a gente já estava desembarcando na cidade que foi palco de quase todos os reis franceses dizendo “oui, je veux” ao trono.

Começamos pela Catedral de Notre-Dame de Reims — e olha, a de Paris que me perdoe, mas essa aqui tem uma presença que impacta.
Imensa, gótica, com vitrais deslumbrantes e uma energia de coisa grandiosa.
Ali dentro, onde reis foram coroados por séculos, a gente ficou em silêncio por um tempo. Porque às vezes, o único jeito de absorver um lugar é calando.

Depois, foi hora do segundo motivo: as caves.
A cidade tem várias, mas a gente escolheu uma das mais tradicionais. O tour nos levou pra debaixo da terra, literalmente. Corredores escavados no calcário, clima constante, paredes cobertas de garrafas envelhecendo em silêncio há anos.
Aprendemos o que significam as palavras no rótulo, como as leveduras atuam, por que algumas garrafas precisam ser viradas todos os dias…
E no fim, claro: a degustação.

Brindamos com uma taça delicada de brut, que era leve, seco, vibrante — tudo ao mesmo tempo. E ali, sem pressa, a gente falou da viagem inteira.
De tudo que já tinha acontecido, e do quanto aquilo parecia fechar um ciclo.

Almoçamos num restaurante pequenino com vista pra uma pracinha — daqueles que servem pão quente e manteiga salgada antes mesmo de você pedir.
Pedimos um prato com vitela ao molho cremoso e batatas douradas. E sim, com mais uma taça. Porque se é pra brindar, que seja até o fim.

Reims foi pausa com conteúdo.
A cidade tem cara de discreta, mas entrega uma sofisticação natural, sem esforço. E vale cada minuto do bate-volta.
Não é só sobre champagne.
É sobre saber comemorar.

A criação do nosso perfume: Paris condensada num frasco

Entre todos os planos dessa viagem, tinha um que era o mais esperado. Não era uma atração turística, nem um restaurante premiado. Era uma experiência rara, delicada e tão simbólica que parecia ter sido feita pra gente: criar o nosso próprio perfume.

Marcamos um workshop intimista numa perfumaria de nicho. Nada de loja cheia de vitrines e borrifadas no pulso. Era uma sala silenciosa, cheirosa sem ser óbvia, com uma mesa arrumada como se a gente fosse experimentar joias invisíveis.

A perfumista nos recebeu com um gesto simples: perguntou como estávamos nos sentindo.
E a partir disso, começou a mostrar pequenos frascos com essências puras. Algumas reconhecíamos na hora — lavanda, jasmim, baunilha. Outras eram mistérios: fumaça, chá preto, notas ambaradas, musgo molhado.

Ela explicou as bases — notas de topo, coração e fundo — e como, juntas, elas criam uma fragrância com camadas, tempo e história.
Era como construir uma narrativa invisível. E a gente ia escolhendo os personagens.

Testamos combinações, corrigimos exageros, buscamos equilíbrio. Algumas ficaram suaves demais, outras intensas demais. Mas de pouco em pouco, fomos chegando perto. Não de um cheiro qualquer, mas de um cheiro que nos representava ali, naquele momento da vida.

No fim, saímos cada uma com um frasco elegante, minimalista, com a nossa criação.
Era perfume, claro. Mas era também tudo o que a gente viveu — engarrafado.
Um cheiro que nunca existiu antes, e que agora nos pertence.

A memória mais invisível e mais duradoura da viagem inteira.

Paris, dessa vez, foi a nossa versão mais elegante e mais livre.
Menos pressa, mais prazer.
Menos obrigação, mais desejo.
A gente já tinha estado ali.
Mas voltamos diferentes.
E Paris, com toda sua luz, nos viu com novos olhos também.

Dicas que ninguém te dá — mas que fazem toda a diferença 

Não é sobre o que levar na mala. É sobre o que levar na cabeça. Porque depois de quinze dias, quatro países, incontáveis trens e muitas histórias compartilhadas, o que fica mesmo são os aprendizados que não estavam nos guias. Aqueles que só quem viveu consegue te contar.

Escolha menos lugares — e mais tempo neles

A tentação de encaixar “só mais uma cidade” é real. Mas o melhor da viagem mora no que acontece quando a gente para de correr. Quando já sabe onde fica o café da esquina, quando não precisa mais de mapa pra voltar pro hotel, quando começa a perceber os detalhes do cotidiano local. A profundidade do roteiro não está na quantidade, mas no tempo que você deixa pra ele respirar.

Os trens são lindos — mas merecem estratégia 

Viajar de trem pela Europa é leve, bonito e prático. Mas tem truques. Algumas estações são enormes (e confusas). Outras não têm elevador. A plataforma pode mudar de última hora. E as conexões curtas com mala na mão são um estresse que dá pra evitar. Chegue com antecedência. Fique de olho nos painéis. E, se puder, escolha horários mais vazios — a viagem fica ainda mais bonita.

A hospedagem define seu ritmo 

Ficar num lugar bem localizado transforma a experiência. Não só pela logística, mas porque você vive a cidade. Acorda e já está ali. Volta pra descansar antes do jantar. Sente o bairro. Encontra o seu café favorito. A hospedagem não é só base: é parte da viagem. Vale investir num lugar que te abrace.

Café da manhã importa mais do que parece 

Foi no café da manhã que a gente planejou o dia, mudou planos, riu e começou leve. Quando o hotel oferece um café feito com cuidado e sabor local, tudo começa melhor. Pão fresco, café forte, um queijo novo, frutas da estação. É rotina — mas com gosto de viagem.

Viajar com amigas funciona (mas exige escuta) 

É possível. É delicioso. Mas também pede presença. Cada uma tem seu ritmo. E tá tudo bem. O segredo é respeitar os silêncios, dividir o que dá vontade, fazer programas juntas — e outros separadas. O mais bonito dessa viagem foi saber que podíamos estar em grupo sem abrir mão de sermos nós mesmas. E isso é liberdade em estado puro.

A viagem começa antes do embarque 

Tudo começou nos cafés em que planejamos, nos áudios trocados com empolgação, nas listas compartilhadas. A expectativa também faz parte da experiência. Curta ela. Mas não espere perfeição. Porque é nos desvios que a memória fica mais viva. E a verdade é que…

Nem tudo vai dar certo — e ainda bem 

Perdemos trem. Rimos demais. Pedimos prato errado. Teve perrengue que virou piada interna. Planejar é importante — mas deixar espaço pro improviso é essencial. A viagem perfeita não é a sem erro. É a que vira história.

Documentos e burocracias: o básico com atenção 

Viajar entre Suíça, Alemanha e França é simples — são países do Espaço Schengen. Você só precisa de passaporte válido por pelo menos seis meses e seguro viagem com cobertura mínima. Visto? Não precisa. Mas o seguro é obrigatório — e tranquiliza só de ter.

Já as reservas… não subestime a demanda. Mesmo fora da alta temporada, museus, atrações e restaurantes populares precisam ser agendados. O Louvre, a Torre Eiffel, o Inhotim, os museus em Munique — tudo com horário marcado garante entrada e evita frustração.

E vale sempre conferir os horários de funcionamento: na Alemanha, tudo fecha cedo (inclusive restaurantes); na Suíça, domingo é quase todo parado; na França, cada cidade tem seu ritmo. Museus costumam fechar bem no meio da semana. Uma olhadinha rápida no site oficial salva o dia.

Pra se locomover, os apps fazem diferença. Use o SBB na Suíça, o DB na Alemanha e o SNCF na França. E baixe os mapas offline — o chip internacional nem sempre acompanha o ritmo dos trens.

Sobre dinheiro: tenha um cartão físico e um digital. Nem todo lugar aceita pagamento por aproximação. E sim, ainda existem cafés e lojinhas que só aceitam dinheiro. Leve um pouco de euro (e francos suíços!) desde o Brasil. O suficiente pra não depender de sorte em estação pequena.
Tenha todos os comprovantes organizados.
Impressos ou no celular, mas salvos offline. A gente teve sinal ruim em algumas estações e acesso limitado à internet em certos trajetos. Um print pode salvar o passeio.

No fim das contas, se você se organiza um pouco antes, ganha liberdade depois. E liberdade é o melhor tipo de bagagem que existe.

O que levar na mala — e o que deixar fora dela

Viajar por três países, de trem, entre montanhas e grandes cidades, é convite pra exagerar — mas o segredo está em resistir. Não é sobre estilo. É sobre inteligência de bagagem.

A primavera na Europa é linda, mas indecisa. Faz sol em Paris, esfria em Zurique, chove em Estrasburgo. Camadas são tudo: uma jaqueta boa, roupas leves, um lenço versátil, sapato que aguente o tranco. Não leve look de cada dia. Leve peças que combinem entre si. E sim: repetir roupa é liberdade.

Uma nécessaire enxuta, com seus remédios, um bom hidratante e um adaptador universal já resolve. Farmácia e mercado existem em todo canto — o que você precisa é praticidade.

E a peça mais importante? Uma bolsa transversal, segura e espaçosa. Que caiba tudo o que importa no dia: documento, celular, água, um snack e talvez um souvenir. Ela vai te acompanhar em trens, caminhadas, museus e piqueniques.

No fim das contas, fazer a mala certa é deixar espaço pra viagem acontecer. Pra voltar com lembranças, e não com peso.

Quando a viagem termina, mas continua dentro da gente 

A gente voltou. As malas foram desfeitas, as roupas lavadas, os souvenires colocados no lugar. Mas tem coisa que não dá pra guardar numa gaveta. Porque o que realmente fica não é o que compramos ou o que fotografamos — é o que atravessou a gente quando a gente estava lá.

Zurique abriu a viagem com silêncio e surpresa. Munique trouxe movimento, arte e aquele tipo de leveza que dança com a intensidade. Estrasburgo foi pausa poética entre mundos. E Paris… Paris foi reencontro — com a cidade, com o tempo, com a gente mesma.

Cada lugar nos pediu um ritmo. Cada trem ofereceu um intervalo. Cada manhã começou com café e intenção. E cada noite terminou com a sensação de que estávamos vivendo uma história boa, daquelas que a gente vai contar por muito tempo.

Essa não foi uma viagem só de deslocamentos. Foi uma travessia interna. Entre amigas. Entre camadas. Entre países — e versões nossas que nem sabíamos que estavam prontas pra nascer.

E agora, tudo isso está aqui. Em palavras. Em lembranças. E no desejo silencioso de fazer tudo de novo — de outro jeito, em outro lugar, com a mesma alma.

Com presença, leveza e espaço pra vida acontecer.
Nos vemos no próximo embarque. ✨

Com carinho,
de quem esteve lá — e voltaria amanhã.

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